Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 10 de junho de 2008
10 de junho de 2008
N° 15628 - Moacyr Scliar
Comparações de junho
Este é um ano de centenários, bicentenários e também de um cinqüentenário: o da conquista da Copa de 1958 na Suécia (29 de junho), marco na história do futebol brasileiro.
Dois nomes se destacaram então na equipe brasileira: Pelé e Garrincha. Dois gênios; duas personalidades diferentes. Pelé com o tempo transformou-se em Edson Arantes do Nascimento, um homem certinho e empresário de sucesso. O nome de Garrincha, Manuel Francisco dos Santos, ninguém lembra.
O "anjo de pernas tortas"era um cara estranho, para dizer o mínimo, que dizia coisas engraçadas e que, no campo, mostrava-se ainda mais imprevisível. Pelé era um jogador competentíssimo, mas fazia o que todo mundo faz, só que muito melhor.
Garrincha, não. Ele pegava a bola, ficava na frente de um adversário. Fingia que ia pela esquerda, o adversário sabia que ele ia sair pela direita, ele saía pela direita, driblando o adversário. Tão surpreendentes quanto suas jogadas eram suas tiradas.
Quando, na véspera do jogo contra os russos, o treinador Vicente Feola traçou uma complicada tática que levaria a um gol na certa, ele perguntou: "Mas, seu Feola, o senhor já combinou com os gringos para eles deixarem a gente fazer tudo isso?" Casado, tinha um monte de filhos, mas deixou a família para ter um caso com Elza Soares; era alcoolista e morreu cedo.
Sua vida foi desconcertante; os herdeiros conseguiram impedir que a biografia escrita por Ruy Castro e publicada pela Companhia das Letras fosse para as livrarias.
Pelé e Garrincha: dois lados de um Brasil que é tão bipolar no esporte quanto o é em outras áreas.
Outra comparação: o Carnaval e a festa junina. Nos blocos de Carnaval o povão adere ao luxo, transformando-se, mediante as fantasias, em reis e rainhas: é o tradicional fascínio brasileiro pela monarquia.
Certa vez, Aurélio Buarque de Holanda, que, além de autor do famoso dicionário, era membro da Academia Brasileira de Letras, vestiu o fardão, para ir a uma posse, e tomou um táxi. O motorista mirava-o, extasiado, pelo espelho retrovisor.
Finalmente não agüentou mais e perguntou: "Sois rei?", o que corresponde ao desejo que Manuel Bandeira, outro membro da ABL retratou no seu poema sobre a mítica Pasárgada, o lugar onde os poetas são amigos do rei.
Na festa junina é o contrário: a classe média vira caipira, usa chapéu de palha, calças pelas canelas e uma maquiagem berrante. É o que o caipira é o símbolo da inocência e da ingenuidade do interior, coisa que a violência e a corrupção das cidades brasileiras fazem esquecer.
Carnaval no começo do ano, festejos junina no meio, Natal no fim: o tripé que sustenta a vida emocional das pessoas.
Eu nunca tinha visto Sex and the City, mas esses dias por acaso liguei a tevê bem no momento em que começava um episódio. Com a curiosidade despertada pelo filme em cartaz, resolvi ver do que se tratava. Foi uma frustração. As quatro personagens, bonitas, simpáticas, agradáveis, parecem, contudo, viver num mundo que não é o nosso.
Ali não há pobreza, não há violência, não há crise alimentar nem ambiental, só existem os egos e seus problemas. Pior que isso o merchandising - de roupas, de relógios, de carros, de qualquer coisa que possa parecer luxuosa é constante e escandaloso.
Se Sex and the City se candidata a ser paradigma de nossa época, lamento, mas não terá o meu voto. Em matéria de candidatas, prefiro Luciana, Manuela e Maria do Rosário.
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