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segunda-feira, 9 de junho de 2008
09 de junho de 2008
N° 15627 - Paulo Sant'ana
Banco 24 Horas
As notícias mais impactantes do cotidiano brasileiro continuam vindo de dentro das prisões.
E todas elas ligadas ao mais estreito consórcio de interesses entre presos e carcereiros.
Na Bahia, foram descobertos na cela de um preso R$ 280 mil em notas de R$ 50.
Os legalistas radicais dirão que não é proibido a qualquer pessoa que visite um presídio que porte qualquer importância em dinheiro. Um presídio não é país estrangeiro, lembro a proibição fiscal de que nenhum brasileiro pode transportar em viagem internacional mais de R$ 10.000, sem declarar à Receita Federal.
Para visitar um presídio ou ingressar nele como preso, não há limite.
No entanto, estranha que um preso mantenha em seu poder na sua cela a quantia de R$ 280 mil.
Como os presos neste Brasil não têm desgraçadamente qualquer atividade produtiva, fruto de que seria este dinheiro?
Evidentemente que fruto de crime. E mais: crime cometido no presídio com resultado da ação colhido fora dos limites da casa prisional.
Assaltos, seqüestros, tráfico de drogas, ocorridos nas ruas e planejado e comandado pelo preso que portava a fortuna em sua cela.
Disse a notícia que o prisioneiro usava a quantia escondida em sua cela para emprestar dinheiro a juros dentro da prisão, talvez também fora dela.
Ou seja, era mantida dentro do presídio uma entidade financeira.
Tenho a curiosidade para saber se a cela milionária funcionava com limite de horário, como acontece com os bancos - presumo que se tratava de uma agência de Banco 24 horas.
E também me intriga que a quantia lá escondida possa ser fruto de depósitos dos outros presos, que descontavam cheques periodicamente junto ao guardião da bolada.
Esse fato revela que são tão grandes a autonomia e exclusividade de gestão dos próprios presos no interior dos presídios brasileiros que eles começam a agir como sociedade organizada, criando serviços lá dentro que só seriam admitidos fora dos limites da prisão.
O comércio de rádios, televisores, celulares, alimentos, é feito por eles mesmos, ainda mais depois que o cigarro deixou de ser a moeda de troca dentro dos presídios para dar lugar à própria moeda nacional.
Sem falar no comércio do sexo, ainda na sexta-feira a televisão transmitiu um diálogo entre um preso no celular e um agente de tráfico de pedofilia, que oferecia uma menina de menos de 10 anos para ser trazida de fora do presídio até a cela do pedófilo. E fecharam o negócio.
Monstruoso. Revoltante.
Como é que passaram estes R$ 280 mil e esta pobre menina pelas portas desses dois presídios?
Não é difícil imaginar que foi gasto muito dinheiro para estas manobras.
E é manifesto que a superioridade financeira de alguns presos sobre os agentes públicos que deveriam controlá-los é tanta que se estabelece um ambiente propício ao suborno dos agentes.
O que em última análise mostra que paradoxalmente quem manda na maioria das prisões são os presos - e sua força deriva de seu poder financeiro.
É muito difícil da sociedade brasileira e de seus governos entenderem que não há nenhuma chance de se diminuir a criminalidade das ruas enquanto não se criarem condições para presídios seguros, habitáveis e bem policiados que impeçam o avanço da criminalidade que ocorre dentro deles.
Sobre o dinheirão encontrado na cela, afinal um presídio não é nos dias de hoje o lugar mais seguro para se guardar dinheiro?
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