Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 7 de junho de 2008
08 de junho de 2008
N° 15626 - Moacyr Scliar
O fascínio das histórias de amor
O Luciano Trigo, jornalista e escritor gaúcho que vive em São Paulo, escreveu um livro de título muito significativo: Todas as Histórias de Amor Terminam Mal. Uma drástica afirmativa que, contudo, encontra apoio nas grandes obras ficcionais, a começar, claro, por uma das mais famosas peças teatrais de todos os tempos, Romeu e Julieta.
O que temos ali são dois jovens apaixonados que acabam pagando o preço do ódio entre suas famílias, morrendo ambos tragicamente. Shakespeare estava dando início a uma tradição romântica que chegaria ao auge no século 19, com grandes obras, das quais Anna Karenina, de Leon Tolstoi (1877), é um dos exemplos mais conhecidos:
aprisionada num casamento sem amor, Anna começa um caso com o charmoso Vronsky, que, claro, teria de terminar em tragédia. Em tragédia termina também Madame Bovary, de Gustave Flaubert.
Mesma coisa: casada com o insípido doutor Charles Bovary, vivendo no interior da França, Emma Bovary embarca não em um, mas em vários casos, que terminam quando os amantes acabam por cansar da pobre mulher. E o que me dizem de Dom Casmurro, do nosso Machado de Assis, cujo centenário está sendo lembrado este ano?
Vocês objetarão que se trata de uma história de ciúmes, mas não são os ciúmes uma evidência, ainda que patológica, do amor? Bentinho ama Capitu, sim; ama de uma forma neurótica, maluca mesmo, mas ama. E a dúvida que a obra suscita - Capitu traiu ou não? - até hoje polariza o Brasil, tanto quanto a divisão das torcidas por times tradicionais.
A regra se estende também aos filmes que se baseiam em grandes histórias de amor, a começar por aquele que, seguramente, é o maior de todos, Casablanca, de 1942. Quem pode esquecer a paixão entre Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, quem pode esquecer da cena final em que se separam, ela partindo no pequeno avião? ...
E o Vento Levou, tirado do romance homônimo de Margaret Mitchell, também tem um final célebre, quando Rhett Butler, vivido por Clark Gable, termina o casamento com Scarlett OHara (Vivien Leigh), que, desesperada, lhe pergunta:
"Mas o que farei? Para onde vou?" - ao que Rhett responde com o célebre "My dear, I dont give a damn" que poderíamos traduzir por "Minha querida, eu não estou nem aí".
O musical West Side Story (Amor, Sublime Amor), cuja adaptação teatral brasileira está em cartaz em São Paulo), também não poderia terminar bem - afinal, baseia-se em Romeu e Julieta. E Titanic se encerra com uma trágica cena.
Claro, também há livros, e peças, e principalmente filmes que terminam bem - o final feliz é uma clássica fórmula de Hollywood e tem uma explicação: as pessoas vão ao cinema para esquecer as amarguras do cotidiano, para recauchutar suas crenças numa vida feliz.
Mas é a desgraça que nos chama a atenção, e a explicação está na genial frase de Tolstoi que aparece justamente em Anna Karenina: "Todas as famílias felizes se parecem; as famílias infelizes o são cada uma à sua maneira."
Troquem "famílias" por "casos de amor" ou por "casamentos" e vocês terão a resposta. Na desgraça, assim como na doença, a condição humana se revela por inteiro, todas as máscaras caem. Agora: preferimos as desgraças nas páginas de um livro ou na tela.
O que tem uma vantagem: faz com que nossa própria vida pareça muito melhor, faz com que possamos dizer para a desgraça: "My dear, I dont give a damn".
Vários leitores (entre eles Jair Ferreira, médico e excelente barítono) assinalaram um equívoco na crônica sobre noivas: o título da ópera de Smetana ali citada não é A Noiva Roubada e sim A Noiva Vendida. Desculpem, foi uma roubada.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário