sexta-feira, 7 de março de 2008



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29/2/2008


O século XXI será espiritual e laico?

Ao longo dos milênios da história da humanidade religião sempre foi um dos grandes temas, envolvendo aspectos espirituais, econômicos, políticos, relações entre países e poder.

Nos últimos tempos, fala-se em um certo revival do assunto, que ganhou dimensões literalmente globais e inquietantes, especialmente após o atentado de 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque.

Países muçulmanos, Israel, religiões ocidentais, novas seitas e religiões, fanatismo e obscurantismo e políticas externas dos países, entre outras coisas, compõem um cenário mundial complexo, que desafia os políticos, os estudiosos e os leigos na busca de explicações e soluções.

O espírito do ateísmo, do grande filósofo materialista, racionalista e humanista francês André Comte-Sponville, que também é professor universitário e autor de quatorze obras sobre vida e filosofia, vem, em boa hora, para contribuir com reflexões e sugestões sobre Deus, espiritualidade, religiões e ateísmo.

Na busca de respostas para grandes questões, como Pode-se viver sem religião?, Deus existe? e Os ateus estão condenados a viver sem espiritualidade?, Comte-Sponville dividiu sua obra em três partes.

Na primeira, intitulada Pode-se viver sem religião?, ele busca definir religião, fala de lutos e rituais, do ocidente pós-cristianismo, de judaísmo, de Dalai-Lama, das tentações da pós-modernidade e das alegrias e desesperos da atualidade.

Na segunda parte, que tem como título Deus Existe?, o autor trata de aspectos teológicos, origem e existência de Deus, mistérios do ser e, ao final, do direito de não crer. Na parte final, intitulada Que é espiritualidade para os ateus?, Sponville fala de silêncio, misticismo, plenitude, simplicidade, eternidade, serenidade e outros temas.

Em toda a obra, a intenção do filósofo foi responder às grandes questões e mostrar seu horror ao fanatismo, ao obscurantismo e à superstição que tantos males fazem às pessoas e ao mundo. Sponville também condena a apatia e o niilismo.

O autor prega tolerância e é a favor da laicidade, que julga ser a solução para não cairmos no fanatismo de uns em luta contra o niilismo de outros. Para ele, aos ateus resta inventar a espiritualidade que acompanha a laicidade. Sponville diz que os ateus não têm menos espírito do que os outros.

Com linguagem clara e precisa e, procurando afastar-se de ressentimentos e ódios tão presentes na discussão de questões religiosas e espirituais, ele busca uma "sabedoria para o nosso tempo" e acha que, ao fim e ao cabo, o século XXI será espiritual e laico ou não será nada.

Vale dizer: nem otimista, nem pessimista, mas tentando ver as coisas como elas são, sem se iludir, Sponville se aproxima do racionalismo crítico de Karl Popper e acha que filosofar é pensar a sua vida e viver o seu pensamento.

Propõe uma metafísica materialista e uma espiritualidade sem Deus e, politicamente, se define como social democrata ou liberal de esquerda. Tradução de Eduardo Brandão, 192 páginas, Martins Fontes, telefone 11-3241 3677.

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