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domingo, 2 de março de 2008
ELIANE CANTANHÊDE
Pela saúde e pela vida
BRASÍLIA - Quem não é cientista, católico ou jurista, só acompanha a discussão sobre o uso de células-tronco embrionárias em pesquisa como se fosse medieval. Ciência contra crenças, a esta altura?
A doutora Mayana Zatz, incansável lutadora pela liberação, tira da bolsa uma ampola menor do que um dedo indicador e, dali, algo parecido com um arame bem fino, onde acomodam-se dezenas de embriões que jamais virarão seres humanos, mas que poderão salvar milhares que já viraram ou milhões que virarão.
A questão foi debatida durante anos, aprovada por mais de 85% do Congresso e virou lei, mas o então procurador-geral da República, Cláudio Fontelles, entrou com ação de inconstitucionalidade no Supremo para derrubá-la. Profundamente católico, alega que usar embriões seria contra a vida.
A lei questionada permite pesquisa e terapia com embriões (de até 14 dias) excedentes na fertilização in vitro, inviáveis ou congelados há mais de três anos.
E desde que com a permissão dos genitores. A vantagem sobre as células-tronco adultas é que são capazes de se transformar em todos os tecidos, inclusive neurônios, e de produzir cópias idênticas de si próprias.
O Supremo julga na próxima quarta, numa sessão desde já considerada histórica -inclusive porque sem precedentes- e que tende a ser apaixonada e apaixonante.
"A declaração de inconstitucionalidade pelo STF iria prejudicar dramaticamente as pesquisas no país, mas não mudaria o destino dos embriões", pondera a doutora Zatz.
Em outras palavras: ninguém lucraria, mas milhões perderiam. Um dos temores é que a liberação das células-tronco embrionárias seja a porta para legalizar o aborto.
Pode ser, mas é uma questão mais importante e urgente. Milhões fazem aborto, proibido ou não, mas ninguém faz pesquisa com embriões se for proibido. Já se perdeu muito tempo. Liberalização já!
elianec@uol.com.br
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