domingo, 2 de março de 2008


CLÓVIS ROSSI

O príncipe e Palocci

SÃO PAULO- Quer dizer, então, que o príncipe Harry serviu dez semanas no Afeganistão? Queria saber se há um só filho, já não digo de presidente da República, mas de um simples vereador da mais remota cidadezinha do mais remoto Estado brasileiro, a serviço com as tropas brasileiras no Haiti.

Aliás, há algum filho de autoridade que não seja dispensado do serviço militar obrigatório?

O "Daily Telegraph" festejou a presença do príncipe assim: "Excluir o príncipe de operações de combate -como o Ministério da Defesa originalmente o fez, por causa do medo de que poria em particular perigo a sua unidade- sugeriria que há uma regra para os membros da família real e outra para o resto das Forças Armadas".

É um exagero. É óbvio que a família real britânica goza de "regras" (leia-se privilégios) que não estão ao alcance dos mortais comuns.

Mas o fato de Harry não ter sido poupado de uma estada nesse paraíso turístico chamado Afeganistão, comparado às "regras" não escritas que valem para a aristocracia brasileira não coroada nem titulada, é todo um compêndio sobre hábitos e costumes nada republicanos no pobre país tropical.

Por aqui, predomina o comportamento monárquico absolutista de quem detém fatias de poder, de que dá prova o caso Antonio Palocci.

Posso estar sendo ingênuo, mas continuo achando que Palocci não é um delinqüente. Cometeu, sim, uma delinqüência, na violação do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa.

Mas parece razoável atribuir a delinqüência não a um DNA delinqüencial mas à certeza de que a uma autoridade tudo está permitido, ainda mais contra os de baixo.

Ou, para citar o "Telegraph", tinha a certeza de que "há uma regra para os membros da família real [no caso, o ministério da República] e outra para o resto". É a República imperial.

crossi@uol.com.br

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