quarta-feira, 12 de março de 2008



12 de março de 2008
N° 15538 - David Coimbra


Um zagueiro com frase

Alguns zagueiros têm uma frase. São os melhores. Se houvesse curriculum vitae de zagueiro, deveria constar o item "melhores frases" ao lado de "títulos" e "convocações para a Seleção".

Quer ver? Figueroa. Eminente frasista. Dizia, e dizia bem:

- Vitórias não se merecem; se conquistam.

Uau! Também declamava de cor e salteado o Poema 20, de Neruda. Olhava para o céu, suspirava e mandava, mão no coração:

"Puedo escribir los versos más tristes esta noche

Escribir, por ejemplo: la noche esta estrellada

Y tiritan, azules, los astros, a lo lejos..."

As mulheres se arrepiavam quando o espanhol de Figueroa lhes penetrava os tímpanos.

Outro zagueiro da época que jogava tanto quanto falava e vice-versa: Oberdan. Ao chegar a Porto Alegre, ainda no Salgado Filho, pronunciou a sentença famosa:

- A partir de hoje, o Escurinho não cabeceia mais na área do Grêmio.

Promessa feita, promessa cumprida. Mais tarde, já consolidado como líder daquele timaço urdido por Telê Santana, Oberdan garantiu:

- Esse é um time de homens. Ninguém vai chorar, quando ganharmos o campeonato.

Promessa feita, promessa cumprida.

Oberdan e Figueroa foram dois dos maiores zagueiros que vi escalavrarem a grama dentro de uma grande área. Eram zagueiros de imposição, que venciam não apenas pelo futebol, como também pela personalidade. Donde as frases todas.

Mas também houve Mauro Galvão. Um zagueiro quieto. Um zagueiro de silêncios. E que zagueiro! Ajeitava uma defesa, o velho Galvão. O Tiririca, se jogasse ao lado dele, virava bom zagueiro.

Alguém dirá: Mauro Galvão desmente a tese. Errado. Galvão era um pensador. Um homem que entendia o jogo. Exemplo: sobre o caso Ronaldinho versus Grêmio, foi conciso e agudo feito um bisturi:

- O Ronaldinho não precisava ter feito isso pra ganhar dinheiro.

Aí está: o zagueiro, mais do que qualquer outro jogador de um time, precisa compreender o que está acontecendo. Ele não depende só do virtuosismo, depende do entendimento, de adivinhar o que vai fazer o adversário, geralmente muito mais rápido e habilidoso, de colocar-se em campo de maneira que os espaços fiquem cerrados, de saber a hora certa de ir e de voltar.

É isso: o zagueiro não pode apenas jogar, o zagueiro tem de pensar.

Os efeitos do sorbato

Tenho ingerido muito sorbato de potássio ultimamente. Fenilanina também. Todos os dias, sorbato de potássio e fenilanina, sorbato de potássio e fenilanina.

São os ingredientes de uma bebida na qual me viciei. Bebo três ou quatro garrafinhas por dia. Tento evitar, não consigo. Minha sede só morre quando bebo aquela côsa. Não contém álcool, mas está cheia desses troços, fenilanina e sorbato de potássio.

Oh, Céus, que pode acontecer com uma pessoa que se enche todos os dias de sorbato de potássio e fenilanina, alguém tem condições de me dizer?

O brabo é que venho notando modificações em meu ser de tempos para cá. Adquiri certas intolerâncias. Passei a odiar incenso com todas as minhas forças. Não suporto mais assistir a qualquer filme que tenha amor no título. E gente que acha que drible é desrespeito me dá enjôo.

Sou assim, agora, que fazer? Culpa de todo aquele sorbato e da fenilanina.

Entrevistas que adoraria ouvir

Essas entrevistas de jogadores no rádio e na TV, elas me fazem sonhar. Tudo o que eu queria era ouvir, um dia:

Repórter - O que você acha do adversário de domingo?

Jogador - Um time de pernas-de-pau. Vamos vencer facilmente. De goleada.

Ou: Repórter - Qual é a sua expectativa para a partida?

Jogador - Péssima. Acho que seremos goleados. E é provável que eu seja o pior em campo.

Ou: Repórter - Você está preparado para a decisão?

Jogador - Não. Na verdade, estou apavorado. Quero a minha mãe.

Ou: Repórter - Qual será a importância da torcida no próximo jogo?

Jogador - Nenhuma. Não agüento mais essa gritaria no campo, não consigo ouvir o que penso.

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