sábado, 8 de março de 2008



08 de março de 2008 | N° 15534
Paulo Sant'ana


Licenciosidade urbana

Tomei a deliberação de deixar por uns dias de falar em mim na coluna, assunto que melhor conheço, para cumprir um dos sagrados mandamentos do jornalismo, que é interessar-se pelas causas populares, as imensas e as comezinhas.

Ontem, já falei sobre a demora cruciante dos correntistas nas filas dos bancos, hoje falarei de início em outro calvário dos cidadãos: a localização dos sanitários nos shoppings.

Constatei num dos maiores shoppings da cidade que a maior distância entre o seu sanitário e qualquer ponto do imenso saguão é de 200 metros.

Vi uma pessoa de minhas relações ter de caminhar 200 metros por dentro do shopping para atingir o sanitário.

Há casos parecidos em outros shoppings, as pessoas são obrigadas a subir 1.800 colinas para chegar até o sanitário. Isto é uma desumanidade.

Estou para a paz hoje. Por isso, com muito jeitinho, quero pedir aos proprietários dos shoppings de Porto Alegre que se sintam atingidos por essa minha crítica, absolutamente justa e devida, tanto que consultei dezenas de pessoas na quinta-feira e ontem, antes de publicá-la, que refaçam o organograma de seus sanitários. Ponham mais sanitários em seus shoppings.

Não pode continuar sendo uma maratona alcançar um sanitário dentro de um shopping.

Não pode.

Não entendo como os Conselhos de engenheiros e de arquitetos gaúchos deixam-se submeter pelas plantas impostas de shoppings com sanitários remotos em seus recintos. Não entendo.

Eticamente, os engenheiros e os arquitetos tinham de se voltar contra os projetos agressivos à pessoa humana. Os engenheiros e arquitetos não podem permitir essa opressão à liberdade de acesso da pessoa humana à higiene, às abluções e necessidades fisiológicas.

E, finalmente, é inaceitável que a prefeitura e a Câmara de Vereadores consintam que esses locais públicos virem centro de tortura para quem quer utilizar seus banheiros.

É quase ignominioso que o Plano Diretor, construído pelos seus conselheiros, pelos vereadores e pelo prefeito, licencie essa monstruosa incomodidade ao interesse coletivo.

O shopping tem de ser um lugar acolhedor, confortável, vário em mordomias para os consumidores.

O Executivo e o Legislativo porto-alegrenses têm de depressa que corrigir essa anomalia.

Nem vou falar nos shoppings que não têm sanitários em alguns andares da sua estrutura. E, para irem ao banheiro, doentes e idosos são obrigados a subir uma escada que para eles, entendam bem, é inóspita e sacrificada. Nem vou falar, que isso é outra iniqüidade.

Parem com isso, por favor.

Alguma voz tinha de levantar-se contra esse dissabor coletivo diário, permanente, parece que definitivo, se não for erguida consciência de que esse obstáculo à urbanidade tem de ser exterminado.

E a voz dos oprimidos nas causas largas e nas causas superficiais, desde que sejam causas populares, há de sempre ecoar por esta coluna.

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