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sábado, 8 de março de 2008
E Gabriela ainda espera
Ao adiar o julgamento sobre o uso de embriões em pesquisas, o STF frustra os pacientes que não têm outra opção a não ser crer no potencial das células-tronco
CRISTIANE SEGATTO, DE BRASÍLIA
A FLOR NO COLO
Católica e defensora das pesquisas com células de embriões, Gabriela Costa diz ter rezado para iluminar os ministros do STF. E levou uma gérbera ao plenário, como forma de pressão
Gabriela costa é uma moça notável. Deixou de andar há cinco anos por causa da distrofia muscular do tipo cinturas, uma doença genética que rouba a força dos músculos. Nem por isso se lamenta. Trabalha, namora, se diverte.
Quando vê portadores de formas mais graves da moléstia, tem certeza de que está bem. A maioria vive um ciclo sem volta. Primeiro, as pernas enfraquecem e os braços ficam imobilizados. Depois, falar e comer se torna impossível. Por fim, os pulmões e o coração entram em colapso. Quem vai discordar de Gabriela?
Na semana passada, ela era a mais clara expressão da vida durante a sessão do Supremo Tribunal Federal que pretendia dar um veredicto sobre a polêmica do uso de embriões humanos em pesquisas. Uma manobra jurídica adiou a decisão por tempo indeterminado. O sonho de Gabriela ficou mais distante. Mas ela não desiste.
Antes da sessão, a brasiliense de 32 anos subiu a rampa do STF com uma confiança visível. Um amigo empurrava sua cadeira de rodas.
A moça manteve o rosto erguido, os longos cabelos soltos e, na mão direita, levava uma gérbera laranja. A flor é o símbolo da luta dos pacientes que ela coordena no Movimento em Prol da Vida (Movitae).
Na véspera, Gabriela escolheu seu melhor terninho e, antes de dormir, rezou. Católica e defensora das pesquisas com células de embrião – condições que, na visão dela, não são incompatíveis –, pediu a Deus que iluminasse a mente dos 11 ministros.
Do fundo do plenário, na fila reservada aos cadeirantes, Gabriela foi testemunha de um momento marcante. Segundo o ministro Celso de Mello, o tema em discussão “é o assunto mais importante da história do STF”.
Como raramente acontece na mais alta corte de Justiça brasileira, os ministros estão diante de uma questão de princípios. Têm a missão de examinar valores que se contrapõem: o direito à vida, o direito à saúde, a livre manifestação do progresso científico, o respeito à fé religiosa.
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