segunda-feira, 3 de março de 2008



03 de março de 2008
N° 15528 - Kledir Ramil


Contando histórias

Existem muitas maneiras de contar histórias. Eu gosto de todas, mas a minha preferida é a literatura.

Antigamente, havia uma tradição de cultura oral, contava-se histórias de lábio a ouvido. O avô contava pro pai, o pai passava pro filho e assim por diante.

O teatro enriqueceu a narrativa, inventando a representação das histórias através de um elenco que assumia a condição dos personagens. Com espaço cênico e figurinos, o mundo das histórias ganhou um novo colorido.

Depois, as tramas começaram a ser registradas. Dizem que Shakespeare escrevia suas peças com uma pena de ganso, o que torna ainda mais incrível a dimensão de sua obra. Com o advento da prensa de Gutemberg, surgiram as publicações. E veio o rádio, o cinema, a televisão, a internet...

Os meios de comunicação passaram a mostrar a vida on-line e a quantidade de informação disponível se aproxima do infinito. Mesmo assim, com tanta novidade circulando em alta velocidade e disputando a atenção do público, há sempre alguma história sendo contada. Acho que essa mania nunca vai acabar. O ser humano gostar de ouvir e contar histórias.

Hoje em dia, os efeitos especiais da mídia virtual levam nossa imaginação a lugares que nem ousávamos sonhar. É deslumbrante, mas são resultados definidos, um pacote fechado que não nos deixa escolha. É por isso que eu gosto de literatura, uma arte interativa por natureza.

O leitor é cúmplice do autor, ajuda a desenhar cada personagem, acrescentando detalhes segundo seu gosto pessoal. O rosto, o caráter, até mesmo uma muda de roupa. E o ambiente é um cenário nunca visto, com móveis e objetos de características próprias.

Assim, um livro é interpretado dentro do universo pessoal de cada um, decodificado através de um determinado ponto de vista. E é isso que faz da literatura uma arte tão especial, um mesmo texto é capaz de criar em cada leitor uma obra única, exclusiva. É a idéia do interativo levado ao extremo.

Quando eu era criança, minha mãe contava histórias para me fazer dormir. Narrativas fascinantes, onde ela imitava as vozes dos personagens. Era um teatro particular - ou seria literatura falada? - com apenas um espectador.

Ela entrava com o texto, o enredo, o som das vozes e eu, sem perceber que estava participando do processo criativo, imaginava os personagens, o cenário, a trilha sonora.

Uma obra íntima, criada por uma equipe de dois. Uma obra volátil, sem registro físico, mas que ficou para sempre marcada em minha memória.

E fez de mim um contador de histórias.

Nenhum comentário: