segunda-feira, 3 de março de 2008



03 de março de 2008
N° 15528 - Paulo Sant'ana


Rua das Moréias

É famoso entre meus amigos o meu lendário azar. Mas, na sexta-feira retrasada, o meu azar passou de todos os limites.

O colunista Cacau Menezes, do Diário Catarinense, me convidou para uma janta em sua casa, que ele ofereceria para mim e para o vice-presidente da RBS Geraldo Corrêa.

Às 21h15min eu estava de banho tomado, pronto para dirigir-me à casa de Cacau, em Jurerê.

Ele tinha me dado o endereço: Rua das Moréias, 321. Saí de carro e fui atrás do endereço. Não havia uma viva alma na rua em Jurerê, a não ser nos bares. E eu me deitei a procurar a Rua das Moréias, 321.

Fiquei 40 minutos procurando, tonto. Apareceram na rua três almas penadas, que me responderam em ocasiões diferentes que não sabiam onde era a Rua das Moréias.

Até então decorreram 65 minutos. E nada de eu achar a Rua das Moréias, o jantar devia estar andando sem mim.

Fui então a um distante posto de gasolina, no qual me informaram onde era o quartel da guarda noturna privada de Jurerê. Lá eles deviam ter um mapa com todas as ruas da praia.

Fui até lá, e eles, sem mapa, me informaram qual era a direção da Rua das Moréias.

Segui à procura e não achei. Até que bati numa pizzaria, cujo pizzaiolo, depois de me dizer que era gaúcho e que se fez jovem me vendo no Jornal do Almoço, pelo que me obrigou a tirar um foto com ele, me disse: "Aquela ali é a Rua das Moréias". Eu estava em cima da rua e não tinha me apercebido.

Até ali eu já tinha gasto uma hora e 20 minutos procurando a rua do Cacau.

Apertei a campainha da porta da casa do Cacau, vi que tinha gente lá dentro, levaram 10 minutos para me atender, são 600 segundos!

Vieram me atender duas crianças sonolentas, um menino de 11 anos, uma garotinha de nove anos. Me disseram que eram filhos de Cacau.

Eu lhes disse que tinha vindo para a janta. Eles me responderam que não havia janta nenhuma na casa e que seu pai, o famoso Cacau, tinha saído pela tarde e ainda não voltara.

"Vocês estão loucos", disse eu para as pobres crianças, "seu pai me convidou para um jantar aqui".

Deram-me o número do celular do pai e liguei. Aconteceu comigo, é óbvio, o que me acontece sempre que tenho urgência quando ligo para um celular: estava na secretária eletrônica.

Despedi-me dos dois filhos do Cacau e saí por Jurerê como um fantasma que se refugia na solidão da natureza morta.

Entrei numa pastelaria e comi, no lugar do jantar festivo do Cacau, um pastel.

Para confirmar meu azar, o pastel era horroroso.

No dia seguinte, eu ainda furioso com o Cacau, não atendi a seis telefonemas dele. Ele pegou o celular de um amigo e me ligou. Como o número não era dele, atendi.

Cacau se desmanchou em desculpas e me disse que desmarcara a data da janta para quatro dias depois porque o dr. Geraldo Corrêa não poderia ir, mas que a janta sairia na terça-feira seguinte, com a presença do dr. Geraldo.

Foi então, sob minha ira incontível, que Cacau me disse que avisara aos outros 16 convivas que a janta tinha sido transferida de data, só esquecera de avisar a mim.

Pode alguém ter maior azar do que eu? Ele avisou 16 pessoas da transferência da janta, só não avisou a mim, que era um dos dois homenageados do jantar.

E eu fiquei quase duas horas procurando o local do jantar.

Pode alguém ter maior azar do que eu?

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