sábado, 1 de março de 2008



01 de março de 2008
N° 15526 - José Pedro Goulart


Toc toc toc

O título acima não é a sigla de Transtorno Obsessivo Compulsivo. É apenas aquele barulhinho de alguém batendo na porta, pedindo licença para entrar.

Como andei afastado, curtindo imerecidas férias, achei que devia me anunciar dessa forma antes de tomar o espaço da leitura de alguém desavisado. Preciso me cuidar depois do meu último texto por aqui sobre a camiseta do Kaká, "I belong to Jesus".

Foram dezenas de mensagens, a grande maioria - como é praxe dos crentes, essas pessoas habituadas a professar generosidade e compreensão - querendo que acontecesse com a minha cabeça o mesmo que aconteceu com o joelho do Ronaldo (para ficar nos exemplos futebolísticos).

E o ano começou sem muito assunto mesmo. Entre tapa-sexos, mosquitos assassinos, volatilidade das bolsas, nada de muito significativo aconteceu.

Ah, teve o prêmio do Tropa de Elite em Berlim, o que incrementou as negociações para que o filme vire uma série de TV. Ótimo. Agora teremos o Capitão Nascimento, uma espécie de serial killer oficializado, fazendo o papel de justiceiro em capítulos. Especulo, inclusive, se a série não poderia ser patrocinada por alguma marca de sabão em pó, afinal, "se sujar faz bem".

Ficamos sabendo também, durante o nosso verão tropical, que no inverno americano houve uma greve de roteiristas que praticamente paralisou a indústria da comunicação por lá. Vivemos um tempo de falas pré-escritas mas ditas como se fossem imaginadas na hora. É assim, nos talk shows, nas entrevistas, nos discursos políticos, nas entregas de prêmios.

Tudo não passa de um grande teatro, independente da hora da sessão; e quanto mais previsível (ou sob controle) melhor. Em parte, isso talvez explique a curiosidade do público pelo Big Brother.

Eventualmente alguém fura esse bloqueio, como talvez fosse o caso da londrina Amy Winehouse, que com sua voz pungente - quase de uma negra blueseira com a garganta encharcada de uísque - destila canções plenas de paixão e dor com uma densidade notável para sua pouca idade.

Seguindo a tradição dos compatriotas John Lennon e Charles Chaplin, Amy teve problemas com o visto de entrada em território americano (devido ao seu envolvimento com drogas).

De modo que ela ficou em casa e participou da entrega do Grammy via satélite. Porém, se alguém esperava alguma rebeldia, teve que se contentar com uma apresentação comportada, onde Amy escondeu até parte das tatuagens. Provando definitivamente que a greve dos roteiristas estava encerrada.

Assim como minhas férias, uma forma velada de entrar em greve, aliás. Portanto estou pronto para o outono que se aproxima.

O outono do patriarca Fidel, figura execrada essa semana na Veja em função dos seus propalados conceitos antidemocráticos. A mesma revista que adorou o Tropa de Elite e sua ode aos métodos de exceção.

A mesma revista que combate as razões esquerdistas defendidas pelo cineasta Costa-Gavras. O mesmo cineasta que, enquanto presidente do júri em Berlim, elegeu o Tropa de Elite como melhor filme do festival.

Nenhum comentário: