sexta-feira, 7 de dezembro de 2007


ELIANE CANTANHÊDE

Fernandinho Paz e Amor

SÃO PAULO - FHC selou uma trégua com Lula, pelo menos durante a sabatina de ontem na Folha.

Foi cauteloso ao falar nos Valdomiros, mensalões e aloprados; ao admitir que, sem reforma política, a relação com o Congresso é difícil em qualquer governo e para qualquer presidente; ao dizer que Lula não é como "certos vizinhos" (Chávez?) e, enfim, ao elogiar o homem do povo que Lula é: "Eu gosto dele." Não pareceu ironia do sempre irônico FHC.

Para não passar em branco, escolheu outro alvo: o ex-ministro Delfim Netto. Disse que conviveram na USP, mas nunca foram próximos, já que Delfim era tão aliado dos governos militares como é hoje do governo Lula. "Coerente", sapecou.

Para FHC, falando ora como sociólogo, ora como ex-presidente, e pouco como tucano roxo, tudo é uma questão de "conjuntura". Lula foi eleito porque, naquela conjuntura, cabia um "candidato do povo" (e não porque o povo votou contra o seu próprio governo...).

A CPMF se justificava no seu governo, mas agora a conjuntura é outra e permite corte de gastos. (Ah, bem!) Numa platéia com um ou outro ex-ministro e amigo de FHC, as perguntas escritas indicaram predominância de tucanos, com queixas à incompetência do PSDB na oposição.

"Uma oposição opaca", reclamou um. "Se [os atuais escândalos] fossem no seu governo, o sr. teria tido impeachment", radicalizou outro.

FHC foi elegante e inteligente, como sempre, mas não conseguiu justificar a falta de diretrizes e de discurso do PSDB na oposição a Lula.

Não foi convincente para responder o que mais a platéia parecia esperar ontem, como os eleitores tucanos provavelmente vão esperar nas campanhas: se o governo Lula faz tudo o que o governo FHC fazia, e até aprofunda o bom e o mau, por que raios voltar atrás e reeleger os tucanos?

elianec@uol.com.br

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