quarta-feira, 5 de dezembro de 2007


CLÓVIS ROSSI

No escurinho

SÃO PAULO - O caso Renan Calheiros acaba sendo um condensado das indecências do mundo político brasileiro.

Ao assumir de público que não tem condições políticas de presidir o Senado, Calheiros confessa implicitamente que tampouco tem condições de ser senador.

Afinal, o exercício pleno do mandato implica necessariamente a possibilidade de ser presidente. Se não pode ser presidente, não está em condições de exercer a plenitude do mandato.

No entanto, renunciou apenas ao cargo principal, na tentativa de se esconder lá no escurinho da Casa, para não ser cassado.

Ao confessar falta de condições políticas, Calheiros está igualmente condenando seus pares, a maioria dos quais votou contra a sua cassação na primeira das muitas suspeitas que sobre ele pesam.

Afinal, ao absolvê-lo, estavam devolvendo-o então à condição de presidente que o próprio beneficiado admite, agora, não ter condições de exercer.

Reincidiram no pecado na segunda tentativa. Como conseqüência do escândalo que foi a primeira votação, os senadores adotaram uma medida que significa, digamos, meio decoro:

a sessão sobre a cassação é pública, mas a votação é fechada. A alegação -torpe- para o voto fechado é preservar o senador de pressões. Ora, quem não é capaz de enfrentar pressões não pode exercer um cargo público.

Homem público tem que dar satisfações permanentes ao eleitor, obviedade que sou obrigado a escrever porque, neste país, nunca se tergiversou tanto sobre os deveres óbvios das autoridades.

O resultado de ontem mostra que não só Renan precisa do escurinho. Afinal, 43 senadores declararam à Folha que votariam pela cassação, mas só apareceram 29 votos. A maioria tem mesmo que esconder o voto do público.

crossi@uol.com.br

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