terça-feira, 11 de dezembro de 2007


BENJAMIN STEINBRUCH

Papai Noel e a educação

Os dados do Pisa mostram que é preciso algo mais do que recursos financeiros para melhorar o nível de ensino

COM O ANO chegando ao fim, é hora de imaginar qual presente o Brasil poderia pedir a Papai Noel. Meu primeiro impulso, de empresário e brasileiro fanático, era falar de economia e pedir que o país ganhasse o "grau de investimento" em 2008, com todos os benefícios decorrentes dessa graduação.

Mas mudei de idéia ao ler, na semana passada, o relatório do Pisa (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes) da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).

Os presentes econômicos podem ficar para depois. Papai Noel deveria ser generoso com o país em matéria de educação. A pesquisa do Pisa, um relatório de mais de 300 páginas, é rica em informações comparadas sobre o nível educacional de 57 países.

Para o Brasil, o programa, realizado a cada três anos, confirmou uma informação nada agradável: o país está na rabeira do ranking mundial em matéria de conhecimentos de seus jovens na faixa de 15 anos.

Ficou no 54º lugar em matemática, no 52º em ciências e no 49º em entendimento de leitura. Em matemática, só três países foram piores do que o Brasil: Tunísia, Qatar e Quirguistão.

Uma lição deixada pelo Pisa é que a melhoria da educação não ocorre de forma natural, como subproduto do enriquecimento dos países.

Aliás, em geral se dá o contrário: o crescimento das economias ganha impulso com a melhoria do nível educacional das pessoas. Países menores e mais pobres que o Brasil, inclusive da América do Sul, têm jovens que lêem melhor, sabem mais matemática ou ciências que os brasileiros.

Mesmo dentro do Brasil, a condição econômica não garante um nível melhor de educação. O Pisa aplicou provas em todos os Estados.

Os alunos do Distrito Federal, onde está a maior renda per capita do país, foram os que mais se destacaram. Mas os de São Paulo, Estado igualmente rico, tiraram notas abaixo da média nacional.

Ainda que as margens de erro maiores dos Estados mais pobres deixem dúvidas sobre os resultados regionais, é importante observar que os alunos de Sergipe e de Rondônia tiraram notas mais altas que os de São Paulo.

Assim, é preciso algo mais do que recursos financeiros para melhorar o nível de ensino. Outra lição do Pisa: os alunos brasileiros, ricos ou pobres, são igualmente mal preparados quando comparados com seus colegas estrangeiros.

O relatório separou a pontuação média do grupo de estudantes 25% mais pobres e dos 25% mais ricos nos vários países. A nota média de matemática obtida pelos mais ricos entre os brasileiros (424) ficou abaixo da média dos mais pobres dos países desenvolvidos (425).

Conclui-se que nem o ensino oferecido aos brasileiros de renda mais alta, em grande parte por escolas privadas, é suficientemente bom para colocar os alunos em nível de igualdade com os do Primeiro Mundo. Cabe aos educadores sugerir caminhos para melhorar o ensino brasileiro.

Fica claro, pelos dados do Pisa, que essa tarefa não depende apenas de investimento, embora isso seja importantíssimo para ampliar a jornada escolar, por exemplo. Na Coréia, onde os alunos são campeões mundiais em matemática, as crianças ficam na escola até 12 horas por dia.

O Brasil é a 10ª economia mundial, o 6º fabricante de automóveis etc., mas está fora do Primeiro Mundo. Para chegar lá, não basta obter altas taxas de crescimento econômico.

Precisa destinar recursos humanos e financeiros para ensinar a seus jovens mais matemática, ciências e leitura, entre outras matérias. Para isso, na verdade, nem depende da generosidade de Papai Noel.

BENJAMIN STEINBRUCH, 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br

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