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sábado, 8 de dezembro de 2007
08 de dezembro de 2007
N° 15442 - Cláudia Laitano
Máquina do tempo
Com um único tiro, Mark Chapman matou um homem e uma fantasia coletiva. Quando o sangue de John Lennon tocou a calçada da Rua 72 Oeste naquele 8 de dezembro de 1980, a expectativa de rever os Beatles no palco começou a deixar o terreno das possibilidades remotas para ingressar definitivamente no reino dos sonhos não-realizados.
Paradoxalmente, por algumas semanas, o luto de milhões de fãs ao redor do planeta criou um ambiente de comunhão musical muito parecido com aquele que acontece nos grandes shows - quando multidões de pessoas que não se conhecem, e muitas vezes têm pouca coisa em comum além de um ídolo, parecem vibrar harmonicamente em uma mesma freqüência, com lembranças e afetos absolutamente individuais vindo à tona ao som de uma única trilha sonora.
Nos grandes espetáculos, não é apenas a música que eletriza os fãs, mas a sensação, provavelmente ilusória, de fazer parte de um grupo, de partilhar um repertório comum de gostos e sensibilidades.
A última apresentação pública dos Beatles foi em agosto de 1966, mas a verdadeira despedida, a única irrevogável, foi aquela de dezembro de 1980.
Neste ano que está chegando ao fim, bandas como Genesis, Van Halen, The Police (hoje, no Maracanã) e Led Zeppelin (na próxima segunda, em Londres) voltaram a fazer shows.
A reação dos fãs diante da notícia de que sua banda favorita está voltando à cena é sempre de excitação extrema. Ingressos desaparecem em minutos - as entradas para o show do Led Zeppelin em Londres foram vendidas através de um sorteio pela internet do qual teriam participado mais de 20 milhões de fãs.
Economias, se existem, são torradas alegremente em passagens para o outro lado do planeta, planos de férias são alterados, casais se separam (pelo menos por alguns dias), filhos são deixados de lado.
E mesmo quem não pode fazer nada disso sente-se privilegiado - como um filho pequeno de pais separados vendo a família novamente reunida em torno de uma grande mesa de Natal.
Tanto barulho pode parecer sem sentido para quem acredita que um show é apenas um grande encontro para se ouvir música. Comprar ingressos para rever os ídolos da adolescência, na verdade, é muito mais do que isso.
A expectativa de quem viaja ou paga fortunas para rever sua banda favorita não é outra do que a de ser imediatamente transportado para o passado em uma gigantesca máquina do tempo - talvez a melhor disponível no mercado. Claro que existe "a música" - e muitos fãs vão jurar que são movidos unicamente por ela.
Mas parece óbvio que o que procuramos no show do velho ídolo não são as músicas que a gente já sabe de cor, mas todo o pacote de lembranças e emoções amarradas definitivamente a elas. É por isso que os fãs querem tudo exatamente igual - o mesmo arranjo, os mesmos instrumentos, as mesmas vozes.
A maioria não quer ver o ídolo evoluindo por novos caminhos, recriando velhas canções ou improvisando sobre nossas memórias - nossas memórias! - como se elas fossem públicas. Queremos tudo exatamente como era antes. Inclusive a gente mesmo.
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