Romeu e Julieta e a polarização política

Lembram da rixa das famílias de Romeu e Julieta? Quando se encontravam por acaso na rua, começavam provocações que poderiam terminar em briga e morte. Aliás, assim se inicia essa peça famosa de Shakespeare, com sangue derramado já de entrada. Provavelmente uma família era partidária dos guelfos e a outra dos gibelinos. Facções políticas daquela época, se hoje não nos dizem nada, para eles diziam tudo. Duas visões de mundo opostas estavam em litígio.

Trago a peça para lhes dar uma má notícia. Sei que você está cansado da polarização, da chatice que é quando qualquer fato torna-se polêmico, quando tudo ganha uma dimensão política, quando minúcias transformam-se em assunto e o bom senso parece que saiu de férias. Mas aquece a água do mate e senta porque, infelizmente, esse túnel é longo.

Quem acredita que a polarização é de hoje não estudou História o suficiente. Somos animais políticos, a luta de ideias é o nosso estado natural. Pare de culpar as redes sociais, elas são apenas um novo instrumento para uma velha paixão.

Existem tempos de exceção. Se a economia estiver bem, se não houver uma crise política escancarada e, ainda, os terremotos do acaso não estiverem presentes, tendemos a esquecer um pouco essa dimensão e focar na vida miúda. Tenho saudade da época em que a maioria dos brasileiros era técnico de futebol e não epidemiologista. Ou seja, não vamos ter um cenário tranquilo de volta a curto prazo. A economia vai mal, a pandemia - que não terminou - empobreceu e enlutou a muitos, e não há consenso político sobre nada.

Outro fator maiúsculo dará as caras. A pandemia apenas adiou a questão sobre o aquecimento global. Preparem-se para milhões de especialistas em clima, formados na prestigiosa WhatsApp University, pregando o que "não" está acontecendo.

Os dados sobre o surto de covid entre os não vacinados americanos são alarmantes. Dos que morrem agora, 99% não tomaram a vacina que estava disponível. Este é o preço que as pessoas estão dispostas a pagar pela polarização. Preferem morrer a recuar de suas crenças. Os fatos lhes esfregam a verdade na cara e eles escolhem não enxergar.

Somos teimosos até a medula. É difícil admitir quando erramos. Mais ainda, neste caso das vacinas, em que eles foram enganados por idiotas que politizaram a ciência. Fica difícil desembarcar depois de ter ido tão longe.

Vai se sair melhor desses dias duros que nos aguardam quem apostar no diálogo e na tolerância. Quem souber costurar alianças com os diferentes, quem transitar entre quem não pensa igual. Fogo já temos em demasia, é hora de nos treinarmos como bombeiros.

MÁRIO CORSO

Nenhum comentário:

Postar um comentário