21 DE AGOSTO DE 2021
FLÁVIO TAVARES
HÁ 60 ANOS
Neste final de agosto comemoram-se os 60 anos do Movimento da Legalidade, iniciado no Rio Grande do Sul pelo então governador Leonel Brizola e que se expandiu pelo país unindo povo e exército numa rebelião em defesa da Constituição. Parecerá estranho que uma rebelião garanta os direitos constitucionais, mas assim ocorreu em agosto de 1961, quando o presidente Jânio Quadros renunciou e os chefes militares decidiram que o vice-presidente João Goulart não poderia assumir o governo, por considerá-lo "simpático ao comunismo".
Eram tempos da Guerra Fria, com EUA e Rússia soviética disputando a hegemonia no mundo. Aqui, os três comandantes militares empossaram na chefia do governo o presidente da Câmara dos Deputados e anunciaram que o vice-presidente Jango Goulart seria preso se voltasse ao Brasil. Goulart estava na China comunista, em visita oficial, para lá enviado pelo renunciante Jânio Quadros.
Consumava-se o golpe de Estado, aceito pelos governadores, exceto Brizola, no RS. Em plena madrugada, Brizola afirma pelo rádio que "o Rio Grande resistirá" e apela a que as Forças Armadas se unam para "cumprir a Constituição". A linguagem é incisiva mas respeitosa, mas, mesmo assim, o Exército fecha as rádios Gaúcha e Farroupilha por transmitirem as palavras do governador.
O fechamento das duas rádios leva o governo a requisitar a Rádio Guaíba (a única no ar, por negar-se a transmitir a fala de Brizola) e vai instalá-la nos porões do palácio. Surge aí o dínamo propulsor da campanha pela posse de Jango. Recém haviam surgido os aparelhos a pilha e o rádio era, então, o grande veículo de comunicação.
Em horas ou dias, emissoras do Interior (e as duas fechadas pelo Exército na Capital) entram em rede e se forma a Cadeia da Legalidade, que foi decisiva para - além de tudo - mudar a posição do Exército nos três Estados do Sul, que no início havia apoiado o golpe. Em cada cidade gaúcha, formam-se os "comitês de resistência democrática" e é comum que homens e mulheres portem revólver à cintura.
Em Brasília, os chefes militares ordenam o bombardeio aéreo do Palácio Piratini. Na Base Aérea de Canoas, porém, os sargentos legalistas desarmam os jatos, furam os pneus e escondem as bombas de inflar, impedindo o bombardeio.
Antes, o comandante do Exército no Sul, general Machado Lopes, foi ao Piratini comunicar a Brizola que as tropas apoiavam a Legalidade e se integravam ao governo gaúcho.
A palavra de Brizola havia derrotado o golpe de Estado, num triunfo da audácia.
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