Tenho tido a minha disposição todo o tempo do mundo... mas não sem restrições, a saúde deu uma falhada, estamos de molho num tratamento longo mas que traz otimismo.
Portanto, curtir o ócio que tanto almejei: olhar as nuvens como em criança no terraço da casa; inventar histórias de bruxas e princesas encantadas embalada na rede; colher jabuticabas lá em cima, o que era proibido porque quase invariavelmente o velho jardineiro tinha de vir com a escada me tirar dali.
Hoje minhas distrações são outras, mas de repente tenho a sensação de que todos os livros estão lidos, todos os frutos colhidos, todas as artes feitas.
Sobretudo, falta ânimo para fazer ou buscar algo interessante.
Passo longo tempo me deliciando com viagens, aquela vez em que, de repente, em Atenas, a Lua subiu de trás do monte cujo nome tem algo de lobo e não lembro...
Ou o restaurantezinho de Veneza dentro de um minúsculo jardim parecendo secreto...
Ou a viagem de carro num lugar ermo da Toscana e, finalmente, chegamos ao paraíso...
Muitas lembranças parecem sonho, de tão impossivelmente bonitas. Por um tempo, algumas cruezas da realidade se esfumam, e nos alegramos com tantas belezas que ela também contém: filhos, netos, amigos, parceiro, arte, natureza com trovão e chuvarada.
Mas aí quero me distrair mais um pouco: um monstrinho chamado CPI. Por que faço isso comigo mesma? Caretas, esgares, insultos, gritos, tumultos raivosos, eu atônita imaginando que esses são nossos líderes, parte deles, e pobres de nós não temos quem venha com uma escada salvadora nos botar no chão. Aquilo é o chão.
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