17 DE AGOSTO DE 2021
DAVID COIMBRA
Temos que fazer como os hipopótamos
Havia, na Ilha de Chipre, hipopótamos e elefantes do tamanho de porcos. Faz tempo isso, cerca de 10 mil anos. Os cientistas acreditam que eles não foram sempre assim, pequeninhos. O que aconteceu foi uma obra da evolução: eles diminuíram com o passar inexorável do tempo.
Isso me intrigou. Por que hipopótamos e elefantes se apequenaram no Chipre, enquanto na África continuam grandes? A resposta evolutiva é sensacional: porque, no Chipre, eles não precisavam de todo esse tamanho. Não havia predadores que os ameaçassem na ilha. Então, ser grande era uma desvantagem: exigia mais gasto de energia e, por consequência, mais comida. Animais menores se acomodam bem em qualquer lugar, não ocupam tanto espaço e comem pouco. São mais funcionais.
Os elefantinhos e hipopotaminhos de Chipre só se extinguiram porque, enfim, encontraram um predador: o homem. Alguns arqueólogos suspeitam de que os seres humanos do neolítico adoravam comer carne de hipopótamo assada.
Suponho que, se tivesse tempo, a Natureza faria os hipopótamos e os elefantes voltarem ao tamanho normal, a fim de combater esse inimigo. O problema é que o Homo sapiens é muito rápido e engenhoso quando sua tarefa é "esmagar, matar, destruir", como diria o robô de Perdidos no Espaço.
Aí é que está: nós somos mais velozes do que a evolução. Pode ser ruim para hipopótamos anões, mas é nessa velocidade que aposto para vencermos a luta contra o coronavírus. Porque, repare, amigo leitor: ele também é rápido. Ele vai se transformando de acordo com a necessidade de sobreviver. Segundo os cientistas, as variantes atuais do corona, como a temível Delta, nada têm a ver com o vírus original que apareceu naquela feira de Wuhan. Quer dizer: ele não necessita de séculos para se adequar, como os hipopótamos e os elefantes. Bastam-lhe alguns meses.
Estou convencido de que estamos enfrentando uma guerra evolutiva. A Natureza, com sua sabedoria de bilhões de anos, chegou à conclusão de que passamos dos limites e quer nos depurar. Só que nós não queremos ser depurados! Temos de derrotá-la de novo, temos de ser mais ágeis do que a Natureza, inventar cada vez mais vacinas e remédios que nos protejam contra seus minúsculos e ferozes exércitos de micróbios.
A questão inquietante é que, mesmo vencendo os vírus, continuaremos a ser um incômodo para a Natureza, devido ao nosso número sempre crescente e às intervenções infelizes que fazemos no meio ambiente. Ou seja: para nos livrarmos de todas as ameaças, teremos de mudar. Talvez fazer menos do que fazemos, talvez ser menos do que somos, menos invasivos, menos perdulários, menos ruidosos, menos. Temos de diminuir, como os antigos hipopótamos e elefantes do Chipre. Temos de evoluir.
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