19 DE AGOSTO DE 2021
DAVID COIMBRA
A ilusão da liberdade
O homem passa a vida tentando não morrer. Ele quer ser imortal. Então, ele escreve um livro, compõe uma música, pinta um quadro, torna-se rei ou ditador ou presidente. Ou tem um filho. A natureza clama que a espécie se reproduza e a psique humana clama por se ver reproduzida em outros indivíduos.
Eu, quando olho para meu filho, me vejo com a idade dele. Ele fez 14 anos nesta semana. Fiquei tentando lembrar como eu era com 14 anos. Essa idade é um marco. As maiores transformações do ser humano se dão de sete em sete anos. Até os sete ele está na primeira infância; dos sete aos 14, na segunda; dos 14 aos 21, na adolescência; dos 21 aos 28 é um jovem; a partir dos 28 começa a vida adulta. E assim vai.
Não por acaso o sete é considerado o número perfeito pelos estudiosos da Bíblia. Deus criou o mundo em sete dias. O faraó sonhou com sete vacas magras. Sete anos de fome assolaram o Egito. O sete aparece a toda hora no Livro. Mais de 350 vezes, alguém já contou. O que faz todo o sentido, porque 350 é metade de 700.
O 12 também tem prestígio. São 12 os meses do ano, o dia tem 24 horas, que é 12 mais 12, e um minuto contém 60 segundos, que são cinco vezes 12. Jesus tinha 12 apóstolos. Na verdade, 72. Sim, Jesus convocou 72 apóstolos, que são seis grupos de 12. Quem eram eles? Não sei. Pergunte ao Google.
Mas não queria falar em numerologia, queria falar de um pai que olha para seu filho que acabou de completar 14 anos e tenta se ver nele. O problema que existe para se fazer esse exercício é que eu vivia em um mundo diferente. Era outro planeta, e não apenas porque não havia internet, celular e coronavírus, e sim porque a forma de encarar a vida mudou.
Sabe no que eu pensava, quando tinha 14 anos?
No dia em que iria morar sozinho.
Sério. Eu queria trabalhar e viver minha própria vida, do meu jeito, sem interferências. Não passava de um pirralho, mas pensava muito nisso. Pensava na liberdade. Achava que, a certa altura da existência, seria livre. Essa não era uma ânsia só minha. Praticamente todos os meus amigos pensavam da mesma maneira e alguns até já haviam conseguido emprego como office-boys, já ganhavam seu dinheiro e acreditavam estar marchando para a independência.
Que eu saiba, meu filho e os amigos dele não têm essas ideias. Será que terão mais tarde? Ou será que a vontade de ser livre foi coisa de época?
Não sei, mas sei que a ilusão da liberdade é exatamente isso: uma ilusão. Nunca fui livre, nunca conheci ninguém que fosse realmente livre. A liberdade é uma miragem. Talvez as novas gerações não se deixem mais enganar. Talvez elas sejam mais práticas. Talvez as ilusões tenham sido perdidas nas últimas décadas. É o que sinto. Sinto-me vivendo num mundo novo. O mundo dos desiludidos.
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