17 DE AGOSTO DE 2021
CRÔNICA
Uma pedra a caminho
O asteroide do Pequeno Príncipe está vindo na direção da Terra. Se os cálculos dos cientistas da Nasa estiverem corretos, cruzará os céus do nosso planeta em 2182, com uma pequena chance de alterar seu percurso e fazer um estrago por aqui -, colocando em risco os passageiros, como teria ocorrido com os dinos em tempos remotos.
Na verdade, a pedra ameaçadora chama-se Bennu, tem 500 metros de comprimento e viaja pelo espaço a uma velocidade de 100 mil quilômetros por hora. A comparação com o asteroide B 612 da história encantada de Saint-Exupéry entra aqui como recurso semântico para suavizar uma notícia aparentemente catastrófica.
Em recente entrevista coletiva, os pesquisadores da agência espacial norte-americana disseram que a perspectiva de colisão é reduzida, mas não pode ser descartada, o que já deve servir para tirar o sono de muita gente - ainda que a maioria dos terráqueos, talvez com a exceção do Keith Richards, não vá estar mais por aqui.
Brinco, mas o assunto é tão sério que cientistas chineses estão propondo um ataque preventivo ao asteroide. A ideia é alvejá-lo com dezenas de foguetes para que altere sua trajetória e vá bater em outras paragens. Ô gente belicista! Espero que, se tal bombardeio ocorrer mesmo, a pedra não tome o rumo da Lua, pois aí o estrago pode ser ainda maior, uma vez que o satélite natural da Terra regula as marés e o crescimento dos nossos (ou melhor, dos vossos) cabelos.
Nestes tempos apocalípticos que estamos vivendo, não dá para duvidar de nada. Ainda assim, prefiro me refugiar na fantasia literária. Quem sabe não é mesmo o asteroide do principezinho que vem aí para que possamos ouvi-lo novamente? Talvez tenhamos uma nova oportunidade para aprender que o essencial é a simplicidade e que nem toda a fortuna do mundo vale mais do que cuidar de uma rosa e três vulcões.
O tijolão voador é uma possibilidade remota, mas a sede de poder, a ganância predatória, a poluição desenfreada, o descaso com a natureza e as desigualdades sociais são ameaças reais e tão próximas de nós que nem adianta pensar em mísseis para contê-las.
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