terça-feira, 17 de agosto de 2021


17 DE AGOSTO DE 2021
CARLOS GERBASE

Números redondos

A humanidade gosta de celebrar conjuntos de anos que, somados, formam números redondos. Não sei se o adjetivo "redondos" vem dos zeros. Deixo a questão para o professor Moreno. De todo modo, falamos constantemente em décadas e séculos como se essas fatias arbitrárias de tempo organizassem nossas vidas. Em 2022, por exemplo, chegaremos aos 250 anos de Porto Alegre. Ouviremos Horizontes e Deu pra ti até enjoar, mas a prefeitura promete reabrir a Usina do Gasômetro antes do aniversário. Se cumprir a promessa, ouvirei as duas músicas bem quietinho, sem reclamar. Querem mais números redondos? Também no ano que vem, teremos o cinquentenário do Festival de Cinema de Gramado, o centenário da Exposição de Arte Moderna de São Paulo e o bicentenário da Independência do Brasil. A efeméride porto-alegrense não tem título pomposo terminado em "ário". Sugiro Deu pra ti, 250 Anos.

Lembrei de tudo isso porque esta é a minha coluna número 200 aqui na Zero Hora. Marco nada extraordinário no mundo do jornalismo. Quem escreve uma coluna diária chega nesse número redondo em menos de um ano. Um robô de fake news publica 1 mil textos mentirosos em um segundo. Porém, foi importante para mim escrever 2,4 mil caracteres a cada duas semanas, dizendo o que penso sobre o mundo fora das bolhas das redes sociais. O jornal é um meio de comunicação que atinge centenas de milhares de pessoas e permite um debate público com liberdade de pensamento e responsabilidade. Posso ter errado muitas colunas e acertado poucas (como a 146, Farei Filmes Bíblicos, um sucesso de público e crítica), mas valeu a pena. Quem sabe acerto de novo na 300.

Outro número redondo: na terça passada, 10 de agosto, eu completaria 40 anos como professor na PUCRS. Acabei saindo da universidade três semanas antes, mas considero que, em espírito, atingi esse interessante número redondo. Tenho muito o que agradecer à instituição por essas quatro décadas de convívio acadêmico. Criei um curso de cinema, o TECCINE, e procurei, a exemplo do mestre Aníbal Damasceno Ferreira, mostrar que a linguagem audiovisual se ensina (e se aprende) em quatro ou cinco aulas. Nem precisa de 10, esse número redondo que significa excelência. No resto do tempo, a gente tenta colocar essa linguagem em funcionamento, fazendo filmes de forma coletiva, errando bastante, aprendendo com os erros e tentando outra vez. Foi bom. E vamos em frente, rumo a mais filmes e a mais números redondos.

CARLOS GERBASE

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