DE OLHO NA INFLAÇÃO
Vilã do orçamento dos brasileiros, a inflação voltou a acelerar em julho, renovando as preocupações com as causas e consequências da alta dos preços. Domá-la depende não apenas do remédio amargo do juro, ministrado pelo Banco Central, mas também de uma sinalização mais clara do governo com a responsabilidade fiscal, a despeito da intenção de robustecer o programa que deve substituir o Bolsa Família, batizado de Auxílio Brasil, diante da dificuldade de parte da população de encontrar ocupação.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve no país alta de 0,96% no mês passado, a maior variação para julho desde 2002. No ano, a elevação é de 4,76% e, em 12 meses, é verificada uma disparada de 8,99%. A inflação é um dos mais nefastos impostos, por recair principalmente sobre a população de menor renda, que acaba despendendo uma fatia cada vez maior de seus ganhos para adquirir os mesmos itens e pagar as contas básicas. Assim, fica cada vez menor a folga no bolso dos brasileiros, quando há, o que leva à redução do consumo além do essencial ou mesmo dificulta a formação de reservas financeiras. São situações que, ao fim, reduzem o potencial de recuperação da economia. É um mal, portanto, que requer atenção e esforços para ser debelado.
Hoje há mais consolidada a percepção de que o Banco Central se equivocou ao avaliar, meses atrás, que a inflação era passageira. Agora, na semana passada, teve de acelerar a alta da Selic para um ponto percentual e a ata do encontro, divulgada ontem, reafirma a necessidade de uma elevação na mesma magnitude na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A alta dos preços tem causas como valorização das commodities e a desarticulação de cadeias de fornecimentos de insumos por causa da pandemia, mas agora também surgem fatores como a energia elétrica mais cara, devido ao déficit hídrico, a somar-se às dificuldades da população para comprar alimentos e absorver a alta dos combustíveis. Ao mesmo tempo, no caso do Brasil, pesa a alta do dólar, influenciada por incertezas fiscais e instabilidade política crônica.
Não resta dúvida de que, com o desemprego em alta e o aumento da miséria, justifica-se formatar um programa robusto de transferência de renda diante da dificuldade de a população encontrar ocupação. Esta necessidade, no entanto, não é salvo-conduto para a irresponsabilidade com as contas públicas, que também carrega um caráter eleitoreiro. A proposta de emenda à Constituição (PEC) para parcelar precatórios, junto a tentativas para burlar o teto de gastos, por exemplo, é uma péssima sinalização e contribui para deteriorar as expectativas. Acabam contaminando o câmbio, as projeções inflacionárias da dívida pública e do juro, uma conta que é paga por toda a população e realimenta o círculo vicioso.
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