11 DE AGOSTO DE 2021
MÁRIO CORSO
Mães más
O Barão de Münchhausen foi um aristocrata e militar alemão, mas ganhou fama contando causos extraordinários. Um livro retratou suas aventuras e seu nome ficou ligado ao exagero e à mentira. Quando médicos descobriram pacientes que inventavam sintomas, ou secretamente os produziam, para ganhar atenção e cuidados, chamaram o quadro de síndrome de Münchhausen.
Entre os inúmeros quadros psíquicos infames, é difícil encontrar um mais horrível do que a síndrome de Münchhausen por procuração. Trata-se de uma variação do quadro anterior. Aqui temos um cuidador, quase sempre a mãe, que clandestinamente adoece seu filho para ser vista como mãe devotada e receber atenção. Alguns casos foram descobertos depois de anos de tortura e internações desnecessárias. Não há limites para o sofrimento dessas crianças, podendo inclusive chegar à morte.
O choque com as informações sobre os abusos que essas mães praticam é parecido com o que vimos no noticiário gaúcho na semana passada. Uma mãe drogou seu filho de sete anos, carregou-o em uma mala e o atirou no Rio Tramandaí. Depois soubemos que isso foi apenas a coroação de uma série de maus-tratos físicos e psicológicos.
O que essas realidades nos ensinam é que somos todos adotados, ser filho biológico não nos protege da maldade em casa. O amor parental segue caminhos mais determinados pela cultura do que pela natureza. Vários autores já nos provaram que foram necessários séculos de propaganda para construir o mito do amor materno instantâneo e incondicional. Se fosse um pai que tivesse atirado seu filho no rio, igual estaríamos escandalizados, mas geraria menos comoção. Não se exige de um homem que tenha empatia automática com a cria.
O peso dessa idealização atrapalha a relação mãe-filho, pois quando há ruído, ele é visto como uma falha grave. É difícil admitir, mas maus sentimentos podem ser até banais na tarefa extenuante dos cuidados parentais. Ter filhos é a mais desafiadora missão na vida humana. Às vezes faltam forças, capacidades ou o desejo suficiente para executá-la.
Para os homens é suportável o distanciamento dos filhos; para as mulheres, falha imperdoável. Todos nós sentimos na carne o amargor do desamparo, mas as mães é que ficam com a obrigação de mascarar nossa insegurança básica.
Se elas forem frágeis, imaturas ou psiquicamente instáveis e enfrentam uma maternidade indesejada, abre-se a porta do inferno. Por vezes, a solução é o desaparecimento do filho-problema. Por outras, quanto mais inadequadas se sentirem, mais buscarão a condição de mártires das mães Münchhausen.
A impossibilidade de falar sobre o desencontro com seu filho sem serem condenadas, cria um segredo que destrói a possibilidade de pedir ajuda. É desse silêncio que se alimenta a espiral de violência que sufoca e desumaniza mães e filhos.
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