quinta-feira, 26 de agosto de 2021


26 DE AGOSTO DE 2021
DAVID COIMBRA

Como nós, pessoas normais, sofremos

Bolsonaro e Lula podiam se aposentar, podiam desistir da política, podiam se exilar no Paraguai. Para você, se você é uma pessoa normal, que cuida da sua vida e não venera políticos como se eles fossem santos, para você, pouco importa. Não faz diferença, e é isso que os brasileiros precisam entender.

O que preocupa, e até assusta, não são Lula e Bolsonaro; são os lulistas e os bolsonaristas. Porque Lula e Bolsonaro passarão, e os lulistas e bolsonaristas passarinhos. Eles continuarão por aí. Segundo as pesquisas, cada "facção", digamos assim, conta com 30% da população. Tenho a impressão de que esse percentual é menor. Seriam, talvez, 20% para cada lado. Ainda assim, é gente demais. São 42 milhões de brasileiros bajulando Lula e odiando quem não bajula, mais 42 milhões que sentem o mesmo por Bolsonaro.

Então, seja lá quem estiver no poder, haverá no mínimo 42 milhões de brasileiros se comportando como adolescentes, rebeldes e arrogantes, reclamando de tudo, se opondo a tudo, pedindo impeachment, fazendo gracinhas nas redes, escrevendo artigos virulentos, incomodando nas mesas dos bares.

Quer dizer: nós temos de conviver com eles. Eles não vão desaparecer porque seu político amado desapareceu. Você vai continuar ouvindo a conversinha de bolsonaristas e lulistas mesmo depois do fim do bolsonarismo e do lulismo.

É isso que desanima. Porque nós não estamos falando de um debate ideológico. Não existe profundidade nessa discussão, é apenas nós versus eles. Se eles são a favor de algo, eu sou contra. Uma chatice.

Você não vai acreditar, mas o Brasil não foi sempre assim. Claro, a esquerda era mais ruidosa e a direita tinha vergonha de se manifestar, mas ambos eram menos intransigentes. A direita orgulhosa, que bate no peito, se assume e imita estratégias da esquerda, essa direita foi se formatando nos governos do PT. Essa, aliás, é uma das grandes culpas do petismo. A esquerda, se alçando ao poder, foi arrogante, excludente e sectária. Como já ensinou Newton, a toda ação corresponde uma reação de igual intensidade e contrária. Isto é: o petismo construiu, à sua própria imagem, a direita arrogante, excludente e sectária.

É como o Flamengo, que nasceu de uma costela do Fluminense. Ou como o Inter, que foi fundado porque os colorados pioneiros tinham sido rejeitados pelo Grêmio.

Essas rivalidades são cevadas todos os dias. Elas vão se entranhando no coração dos homens, vão se lhes infiltrando nas veias, tomando-lhes a alma, até que se tornem soberanas. Nada é mais importante do que derrotar e humilhar o inimigo. Foi o que fizeram do Brasil.

E nós, os normais, no meio disso tudo, se aborrecendo.

DAVID COIMBRA

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