domingo, 1 de novembro de 2020


31 DE OUTUBRO DE 2020
JULIA DANTAS

AS CANDIDATAS E A MINA 

Diferentes estudos defendem que a maioria dos países que melhor lidaram com a pandemia de coronavírus é governada por mulheres. Sem desprezar a possibilidade de que seja uma grande coincidência, algumas pensadoras já imaginam possíveis explicações para o fenômeno. No geral, essas teorias passam pelo fato de que as mulheres estão mais acostumadas a serem as protagonistas do cuidado e estão acostumadas a serem afastadas da esfera econômica. Dito de outra forma: as mulheres têm vasta experiência em cuidar de vidas humanas e abrir mão de dinheiro.

Histórica e socialmente, cabem às mulheres os trabalhos de manutenção: cuidar das crianças e dos idosos, cozinhar, limpar e organizar o lar. Se elas desempenham essas tarefas na própria casa, de modo não profissional, não recebem remuneração. Todo o tempo, energia e trabalho que colocam nesses esforços não é valorizado pelo Estado. Mesmo enfermeiras, fisioterapeutas ou cabeleireiras podem trabalhar arduamente, mas não produzem riqueza no sentido de que não fabricam bens para venda. Existem homens nessas mesmas funções, por óbvio, mas culturalmente esses papéis são associados ao feminino.

Esse "currículo" de trabalho invisível talvez torne as mulheres mais aptas a tomar decisões políticas que priorizam a saúde e não o aumento imediato do PIB. Esse é um dos motivos pelo qual priorizo candidatas mulheres em todas as eleições. Uma das minhas maiores preocupações atuais com a cidade onde vivo diz respeito à ameaça de instalação da Mina Guaíba no município vizinho. A contaminação do ar e do solo e a provável contaminação da água afetariam a Capital diretamente. Impedir que esse projeto avance é tarefa que eu entregaria a uma mulher com mais confiança do que a um homem, pois impedir esse projeto é colocar em prática os fundamentos de uma economia feminista e sustentável. Abre-se mão do lucro imediato - porém temporário e danoso ao meio ambiente - para garantir a saúde e o bem-estar a longo prazo.

Entre nossas candidatas, duas já se pronunciaram a respeito do projeto posicionando-se contra ele. Basta uma rápida pesquisa na internet para saber quem são. Também é bastante rápido descobrir quem anda dizendo que "é preciso considerar os dois lados" e quem aposta em políticas neoliberais sob a bandeira da desburocratização: desses, eu pretendo passar longe. É somente graças às etapas de licenciamento que a mina não foi para frente (ainda). O processo está suspenso porque não houve consulta à população indígena local. Mas, se a gente piscar o olho, não vai faltar quem queira passar a boiada.

Não pretendo aqui convencer ninguém quanto a quem confiar seu voto. Mas sugiro às leitoras e aos leitores que considerem quais são suas prioridades para a cidade em que vivem e que questionem os candidatos sobre esses pontos. O impedimento da Mina Guaíba é minha primeira preocupação. Em seguida, eu colocaria projetos de mobilidade urbana e, depois, programas de fomento cultural. Mas tenho certeza de que cada leitora e cada leitor terá suas próprias preocupações. Não esqueçam delas na hora de ir às urnas.

JULIA DANTAS

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