domingo, 1 de novembro de 2020


17 DE OUTUBRO DE 2020
FLÁVIO TAVARES

BOI BOMBEIRO 

Os atuais tempos difíceis acumulam tantos perigos e absurdos, que é como se vivêssemos na vice-versa do contrário num escuro labirinto infinito. Além da pandemia que ataca o planeta inteiro mas é invisível, no Brasil as queimadas da Amazônia e os incêndios no Pantanal são um inferno a mais, que a TV exibe como indesejável "pão nosso de cada dia".

Fogo não se apaga com decreto ou lei, menos ainda com ideias absurdas, como sugeriram dois ministros do governo Bolsonaro. Criar o "boi bombeiro", ideia da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, encampada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, arrasando florestas e criando pastagens (para que o fogo se propague menos e facilite combatê-lo), seria admissível numa criança que guardasse uma garrafa térmica na geladeira "para conservar o calor".

Em altos membros do governo federal, vira piada e ultraje ao bom senso. A não ser que os dois ministros tenham confundido "boi bombeiro" com "boitatá", o fogo-fátuo que, no folclore gaúcho, protege o campo contra incêndios, nada explica tal loucura.

Nossos governantes enxergam o futuro do planeta pelo espelho retrovisor, indo para trás crendo que vamos à frente. A pandemia assusta, mas, sem crer nos alertas da ciência, alguns políticos inventam "saídas" absurdas e ridículas. Primeiro, o presidente da República chamou de "gripezinha" a peste mais brutal da era moderna. Agora, o candidato "bolsonarista" que, em São Paulo, lidera as pesquisas de voto na eleição municipal (de nome Carlos Russomanno) sugere "não tomar banho", como fazem os moradores de rua que resistem à covid-19.

Por sorte, em Porto Alegre, nenhum dos 13 candidatos a prefeito chegou a tanto. Mas só falta que, na pobreza de projetos concretos, os mais afoitos prometam que nunca entregarão chuveiros portáteis nem sequer baldes d?água a quem more na rua, para salvá-los da covid. Mas só para quem for eleitor?

???

Tantos são os disparates, que (já que os estádios de futebol estão fechados) deveria surgir um torneio entre os governantes para se conhecer o campeão.

Para ficar no orgulho gaúcho, desde já, aposto no governador Eduardo Leite. Basta ir à Rua Washington Luiz, no centro da Capital, e (junto à ACM e à OAB) ver a Escola Fundamental Rio Grande do Sul fechada, com faixas denunciando que o governo arrombou o portão e cortou, até, luz e água do prédio. O cartaz principal é irônica paródia do Hino Rio-Grandense: "Governador que não tem virtude acaba por quebrar cadeado".

Outra faixa diz: "Brizola vive", referência à escola criada em janeiro de 1963 pelo então governador, hoje com 287 alunos.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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