Mulheres maduras
Na adolescência ou na juventude, você se apaixona
por uma pessoa. É uma paixão personalizada: quer alguém para fazer parte de sua
rotina, para estar com você, próximo de você. Existe ciúme, possessividade,
insegurança, medo de ser abandonado. Na velhice, e só na velhice, você se
apaixona por um estilo de vida. O patamar é outro: você anseia por existências
surpreendentes.
É o que acontece frequentemente com as mulheres
maduras. Os homens mais velhos ainda não lidam bem com a solidão e acabam se
tornando mais dependentes e mais carrapatos. Têm horror ao vazio. Ficam
mendigando uma reconciliação às ex-esposas quando são deixados pelos seus
romances meteóricos com parceiras que têm a metade das suas idades. Buscam
tardiamente corrimões nas alianças antigas para ficar novamente de pé.
Por sua vez, as mulheres maduras alcançam um
extremo de sabedoria. Escolarizadas pelo espírito aventureiro, elas se
desapegam da noção material e avarenta da presença. Não é por acaso que
apresentam uma longevidade maior do que a dos homens. Não se prendem à simbiose
nem se subjugam a uma convivência.
Já estão num ponto das trajetórias em que não é
qualquer fato que despertará a sua atenção. Viveram muito e já não se assustam
com dores ou tragédias. Sequer temem a solteirice. Idolatram a independência.
Namoram, mas não casam. Não abrem mão da casa separada, de cada um com a sua
família, dos horários a sós.
Apaixonam-se por obras de escritores, de músicos,
de cineastas, por pensamentos, por teorias, por visões de mundo, como se fossem
amores carnais. São capazes de sentir os mesmos arrepios e suspiros. Matriculam-se
em cursos e oficinas, escrevem livros, mudam de carreira.
Os prazeres não se restringem a estarem
acompanhadas. Antes povoam a alma com a sua própria companhia, vivenciando
novas culturas e hábitos para aperfeiçoar a personalidade. Exploram a ciência
da sensibilidade. Pretendem viajar, sair, conversar, beber, gastar seu tempo
ouvindo biografias interessantes e exóticas. Quanto mais fora da caixa, melhor
o interlocutor.
Depois de fazer tudo pelos maridos, filhos e netos,
cansaram-se das sombras, das desculpas, do futuro postergado. Preferem as
amizades aos relacionamentos amorosos, a lealdade à fidelidade. São
compreensivas com os erros humanos, com os percalços e, principalmente, com as
suas dúvidas. A curiosidade é o motor das suas esperanças. Não são reféns da
jovialidade, da cultura da aparência. Encontraram algo superior no caminho: a
vitalidade do autoconhecimento. Descobriram que o coração não tem rugas. Que
podem amar ideias, não somente pessoas.
CARPINEJAR
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