terça-feira, 21 de março de 2023


21 DE MARÇO DE 2023
VEÍCULOS

Venda fraca leva montadoras a interromperem a produção

Após dois anos de paradas forçadas por escassez de componentes, principalmente de chips, as fabricantes brasileiras de veículos voltam a interromper a produção, mas, desta vez, também por falta de consumidores. A desaceleração da atividade econômica, inflação alta e juros elevados estão frustrando as expectativas do setor e levando empresas a ajustarem os planos de produção.

Pelo menos três grandes companhias, General Motors, Hyundai e Stellantis (dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën) passaram a suspender linhas de produção, desde ontem, e dar férias coletivas aos funcionários. O quadro de desaquecimento de vendas pode se prolongar até 2024, na visão de economistas do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, e novas paradas de fábricas devem ocorrer.

A Hyundai concede férias coletivas de três semanas para os trabalhadores dos três turnos da unidade que produz os modelos HB20 e Creta em Piracicaba (SP). Amanhã, a Stellantis dispensa por 20 dias os funcionários do segundo turno da fábrica da Jeep em Goiana (PE) e, uma semana depois, os operários do primeiro e do terceiro turnos, por 10 dias, período em que toda a produção dos SUVs Renegade, Compass, Commander e da picape Fiat Toro estará paralisada.

A General Motors também suspenderá a produção da picape S10 e do SUV Trailblazer na planta de São José dos Campos (SP) de 27 de março a 13 de abril. No fim de fevereiro, a fábrica que produz os modelos das marcas francesas Peugeot e Citroën, também do grupo Stellantis, encerrou o segundo turno de trabalho em Porto Real (RJ) e antecipou a dispensa de 140 funcionários com contratos temporários.

As montadoras afirmam que o motivo das medidas é a queda da demanda e a consequente necessidade de adequar os níveis de produção. No caso das duas marcas francesas, o impacto é maior nas exportações. "Ao contrário do último biênio, em que a oferta era a principal fonte de desafios da indústria automobilística, a demanda deve ser o fator-chave para o cenário de 2023-2024", assinala o Bradesco, em relatório assinado pelo economistas Renan Bassoli Diniz e Myriã Bast.

Em 2019, as vendas de veículos no Brasil foram de 2,787 milhões de unidades - patamar já considerado baixo. No ano passado, esse número caiu para 2,104 milhões de unidades, ou 24,5% menos.

O setor já vinha de desgaste forte, com a falta de semicondutores para a produção que levou a uma perda de 630 mil veículos que deixaram de ser produzidos nos últimos dois anos. O problema é bem menor no momento, embora ainda persista. A Volkswagen vai suspender toda a produção na planta de Taubaté (SP) por 10 dias também a partir do dia 27. Entre fim de fevereiro e início deste mês, a marca já tinha paralisado as linhas das outras três unidades no país alegando falta de componentes.

A melhora no fornecimento global de componentes, especialmente de semicondutores, ajudou as fabricantes de veículos a recomporem o armazenamento. No auge da pandemia, os estoques caíram para volumes próximos a 10 dias de vendas, e alguns automóveis chegaram a ter fila de espera de até seis meses.

Ministro

Em visita ao Rio Grande do Sul, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que a paralisação da produção em montadoras deve servir como um recado para o Banco Central reduzir os juros no país:

- Isso é bom para o presidente do Banco Central ouvir, escutar e olhar e observar. E quem sabe tocar a sua sensibilidade de que é hora e tem condições de reduzir os juros no Brasil. Os juros no Brasil, como disse o presidente da Fiesp, Josué Gomes, são pornográficos. Até os bancos tão dizendo que os juros estão altos.

No fim de fevereiro, havia 187,4 mil carros nos pátios das montadoras e das concessionárias, suficientes para 40 dias de vendas, acima da média normal de 30 a 35 dias. Os preços dos carros usados, que haviam apresentado alta valorização no período de escassez dos novos, pararam de subir e até promoções nas vendas dos zero- quilômetro, que estavam raras nos últimos meses, estão de volta.

Diante desse cenário, as paradas que estão ocorrendo nas fábricas visam segurar a produção para evitar grande acúmulo de estoques, algo que pressionaria para baixo os preços dos automóveis.

- Não há alternativa para as empresas, pois se não readequarem a produção para a nova realidade vão perder muito dinheiro - avalia Fernando Trujillo, consultor da S&P Global Brasil.

Para Trujillo, o problema de demanda já vinha ocorrendo, mas no ano passado foi, de certa forma, "maquiado" pela falta de chips. O crescimento de vendas previsto para este ano, na casa dos 4% nas contas da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), é considerado pequeno e muitas montadoras continuarão fazendo ajustes.

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