sábado, 11 de março de 2023

07/03/2023 - 05h00min
Rosane Tremea

Turismo feito de pedra

Conheça o Jardim das Esculturas, em Júlio de Castilhos, o Esculturas Parque Pedras do Silêncio, em Nova Petrópolis, e o Parque Internacional Domadores de Pedras, em Bento Gonçalves

A inspiração pode vir de consagrados parques no Exterior ou no país - como Inhotim, em Minas Gerais, e Francisco Brennand, em Pernambuco - ou da cabeça e das mãos de abnegados que fazem nascer da pedra museus a céu aberto no Rio Grande do Sul. Há pelo menos três parques com esculturas em pedra no Estado para serem apreciados - desses, por enquanto, visitei só o de Nova Petrópolis, mas os outros dois estão na minha infindável lista:

Jardim das Esculturas (Júlio de Castilhos)

Museu a céu aberto foi inaugurado em 2005 e já conta com mais de 880 obras

É como se fossem cogumelos brotando do chão após a chuva. Mas não. As novas esculturas que irrompem a cada semana no Jardim das Esculturas - às vezes uma, às vezes duas - refletem o (muito) trabalho de seu criador, o artista autodidata Rogerio Bertoldo, 53 anos. Esse museu a céu aberto inaugurado em março de 2005 já conta com mais de 880 obras em arenito, todas criadas por ele, a maioria em tamanho natural, embora uma alcance até 6 metros.

— É um universo muito particular de criação. É um jardim em movimento — resume Giselda Moro Bertoldo, 44 anos, esposa de Rogerio que, assim como o marido, era agricultora até ele começar a esculpir.

Hoje ela se ocupa da administração do parque que recebe entre mil e 3 mil visitantes por mês, dependendo da época, e da catalogação da extensa produção do artista - um projeto com a Universidade Federal de Santa Maria dedica-se a esse trabalho que permitirá que as visitas sejam autoguiadas. Atualmente, um vídeo mostra aos turistas o parque e explica o significado de cada obra.

Um outro local citado nesta página, o de Nova Petrópolis, ainda abriga cerca de 40 das obras de Rogerio. Para este ano, ele projeta iniciar uma escultura com 20 metros de altura, uma representação de Gaia ("mistura do planeta com a imagem de uma mulher em que os pés serão raízes e os braços, galhos", explica Giselda). Rogerio promete esculpir até completar 80 anos. Calcule então, ao longo desses 27 anos, quantas esculturas ainda desabrocharão nos 70 mil metros quadrados de jardim.

Onde fica: na localidade de São João dos Mellos, no interior de Júlio de Castilhos. Há 9km de estrada sem asfalto a partir de Nova Palma para quem vem da Capital (saindo da BR-287 para a ERS-149), mas em boas condições. Funciona de sexta a domingo, nos feriados e, em outros dias, com agendamento. Informações: jardimdasesculturas.com.br. Ingresso a R$ 25 (a partir de abril, R$ 30, com meia entrada e desconto para excursões). Conta com restaurante, uma pequena pousada com três suítes, sala de vídeo e banheiros.

As mais de 80 esculturas espalhadas na área verde, no interior de Nova Petrópolis, recontam a história da imigração alemã - muitas representam as profissões dos imigrantes, por exemplo. Elas se distribuem entre os cerca de 400 metros de caminhos autoguiados e calçados do parque inaugurado em 2014, com deslocamento facilitado e audiodescrição para deficientes visuais. 

Numa das vezes em que estive ali, ainda pude conversar com um dos artistas responsáveis por grande parte das obras em arenito, Cristovão Hullen - um segundo, Rogerio Bertoldo, também é o criador do Jardim das Esculturas de Júlio de Castilhos, e o terceiro é Rodrigo de Azevedo. Em 2023, uma nova obra deve ser incluída ao acervo, mas ainda não há definição de qual será. Outra novidade, a partir de meados deste ano, deve ser um espaço para interação com animais em dias específicos e sob agendamento.

Numa das construções em estilo germânico do parque há venda de cervejas artesanais e orgânicas locais, artesanato de palha de milho e trigo, artesanato de couro e ímãs de geladeira com pinturas a mão, produzidos por artesãos locais, além de bolachas e geleias.

Onde fica: na Rua Emilio Dinnebier Filho, 560, na Linha Brasil, interior de Nova Petrópolis, na Serra. Abre todos os dias, das 9h30min às 18h. Informações: pedrasdosilencio.com.br. Ingresso a R$ 40.   

Parque Internacional das Esculturas Domadores de Pedras (Bento Gonçalves)

A história começou em 2012, quando o empresário Tarcísio Michelon organizou em Bento um simpósio de escultores, reunindo artistas do mundo todo, para produzir na cidade obras de temática livre - a única exigência era o material, a pedra. Menos de uma década depois, em 2021, após a doação de uma área de quatro hectares no consagrado roteiro Caminhos de Pedra, o parque abriu as portas e exibe mais de 60 obras. Em fevereiro foram instaladas as últimas 13, frutos do 5º simpósio internacional que, em janeiro, reuniu 10 artistas de nove países - em paralelo, ocorreu o 2º Simpósio Domadores de Pedras do Sul.

As esculturas que se esparramam pelo terreno cercado de verde são esculpidas em basalto, pedra abundante na região e que serviu aos imigrantes italianos no início da colonização. Um exemplar dessas construções, do início do século 20, com porão original de pedra, fica na entrada do parque, ocupada pela recepção, loja de esculturas e acessórios em pedra e por um restaurante que leva o sugestivo nome de... Pietra. 

— É uma união de cultura, história, natureza e arte — define Ana Cris Paulus, head da Alpina Serra, agência de marketing do parque.

Para fazer uma visita razoável, a sugestão é que o turista reserve pelo menos uma hora. Os mais curiosos poderão dispender duas horas ou mais, já que a visita é autoguiada, com QR Code com a ficha técnica de cada obra. A maior delas, instalada neste ano na entrada, mede 5 metros.  

A receita é revertida para as mais de 50 crianças em situação de vulnerabilidade social que frequentam uma escola de música mantida pelo Instituto Tarcísio Michelon.

Onde fica: na Estrada Caminhos de Pedra, 340, na Linha São Pedro, ao lado da Casa da Ovelha, interior de Bento Gonçalves. De terça-feira a domingo, das 9h às 17h. Informações: domadoresdepedra.com.br. Ingresso a R$ 30.

Inspirações pelo país afora

Instituto Inhotim — Localizado em Brumadinho (MG), é privado e foi idealizado ainda nos anos 1980 pelo empresário Bernardo de Mello Paz. Aberto em 2006, é um dos maiores museus a céu aberto do mundo. Nos 140 hectares há mais de 700 obras de 60 artistas de 40 países, além de um jardim botânico. @inhotim 

Parque das Esculturas Francisco Brennand — Fica em Recife (PE), também com o conceito de museu a céu aberto. Idealizado pelo ceramista Brennand nos anos 1990, foi inaugurado em 2000 para comemorar os 500 anos da chegada de Cabral. Conta com 90 esculturas do artista - outras centenas estão em sua oficina. @oficinafranciscobrennand

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