domingo, 26 de março de 2023


25  DE MARÇO DE 2023
mONJA COEN

VOTO

Voto de votar, de ir às urnas e dar sua opinião, dar seu voto, sua confiança a um partido ou a uma pessoa, um pensamento administrativo, político, econômico, filosófico. Voto de compromisso, de fazer um voto pessoal ou coletivo, de se comprometer a uma causa, a um casamento, a uma relação, a uma parceria, uma sociedade, aos princípios e valores de uma empresa, de um grupo.

No casamento zen budista, peço aos noivos e noivas que escrevam juntos seus votos de casamento, seu compromisso. Não é apenas o voto de um para o outro, de uma pessoa para a outra pessoa. É o voto que fazem frente ao sagrado da existência.

Cada casal deve escrever seus votos, usando suas palavras e os propósitos em comum entre ambos. Assim devem ser os votos de casamento, escritos a quatro mãos, escritos juntos, naquilo que ambos concordam e podem se comprometer. Da mesma forma que um contrato social onde todos os sócios devem concordar.

Há também os votos religiosos, espirituais. Cada ordem religiosa, cada grupo espiritual tem seus princípios, seus códigos de honra. Comum a todos e todas é o compromisso de cada pessoa a se tornar os próprios ensinamentos da tradição a que se compromete a seguir. É transformar-se e ser um santo, uma santa, um/uma bodisatva, um/uma Buda: ser desperto, benéfico, sábio e compassivo, capaz de perceber suas próprias faltas e erros, arrepender-se e fazer o voto de retornar ao caminho correto, de se transformar, transmutar.

Os preceitos no budismo são as regras de conduta de comportamento pessoal, individual e social, coletivo. No Zen, há três regras de ouro, que se assemelham a de outras tradições espirituais: não fazer o mal; fazer o bem; fazer o bem a todos os seres.

Parecem repetitivas. Entretanto, são inclusivas e mais profundas em cada nível. A pessoa pode se comprometer a não fazer nada maléfico e ao mesmo tempo não se comprometer a fazer o bem. Pode se comprometer a fazer o bem para si mesmo e seus amigos e deixa de fazer para todos os seres. Percebe?

Não são apenas palavras bonitas. São reflexões profundas sobre o mal e o bem.

Honrar nossa ancestralidade inclui o respeito a nossos professores e professoras, aqueles que nos antecederam e nos apontaram o Caminho. Não apenas os mestres e as mestras do passado distante. No Japão, por exemplo, as únicas pessoas para quem os imperadores e as imperatrizes abaixam a cabeça são os professores. Sem eles, nada teríamos, nada seríamos.

Minha superiora no Mosteiro Feminino de Nagoya certa vez nos falou sobre os votos. Uma história simples, mais ou menos assim:

"Um grupo de pessoas está num barquinho atravessando um lago. De repente, notam que há um buraco no barco e a água começa a entrar e a subir. A pessoa que fez o voto de salvar, beneficiar todos os seres, junta as palmas das mãos e começa a tirar a água de dentro do barco. A mesma água que pode dar sustentação ao barquinho é aquela que pode afundar o barquinho. Uma pessoa que não faz votos nenhum pode se jogar na água e nadar até a margem, pode gritar e se desesperar, pode rezar apenas. A prece maior é a ação que beneficia todos e não apenas a salvação individual."

Você pode fazer, manter e restaurar seus votos de amor, de devoção, de respeito, de inclusão, de cuidado com a vida em suas múltiplas formas, de gratidão e harmonia aos que vieram antes de nós? Pense nisso. Renove seus votos.

Mãos em prece

MONJA COEN

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