Investimento é para startup crescer, não comprar sede em Miami, diz Kepler
Capitalistas de risco falaram com empreendedores em painel lotado
PATRICIA KNEBEL/DIVULGAÇÃO/JC - Patricia Knebel
O investimento de risco deve ser usado para ajudar as empresas a crescerem, passarem para o próximo estágio, e não para salvar a startup, pagar cheque especial ou para empreendedores comprarem o carro do ano ou um escritório em Miami. Foi assim, direto e reto, que o CEO da Bossa Nova Investimentos, João Kepler Braga, mandou o seu recado ontem para a plateia que lotou a Growth Stage para o painel VC Check: from idea to IPO.
O tema do investimento de risco é sempre um dos pontos altos do South Summit, tanto na sua edição espanhola, que acontece em Madrid, como na brasileira, que iniciou ontem no Cais Mauá, em Porto Alegre.
E o cenário global turbulento, claro, foi tema constante das rodas de conversas e dos painéis. Com a alta dos juros, os investidores de risco, que jorraram dinheiro nas startups nos últimos anos, começaram a puxar o freio. Outro fator importante para essa postura foi a alta dos valuations destas empresas, que saíram muito valorizadas da pandemia.
“Nestes estágios de cheques de cerca de R$ 5 milhões, por exemplo, o momento realmente é de pé no freio. Mas, isso não está acontecendo com o investimento anjo, o que envolve os estágios mais iniciais de crescimento das empresas.
“Para os aportes de pré-seed e seed, não há motivo para alarde. Para esse perfil de startup, nada mudou. Isso porque, essas empresas já se preocupam com o caixa, estão mais organizadas e com o racional adequado de fazer o dever de casa”, explica. São operações que precisam dos aportes, mas que sobrevivem com o dinheiro dos clientes, e não dos investidores.
Ainda assim, dentro do cenário desafiador, Kepler recomendou aos empreendedores atenção: é validando cada passo da empresa que se aprende. “Não adianta captar recursos sem ter o básico do negócio organizado e testado. É isso que os investidores querem ver hoje”, alertou.
Ele é um dos maiores investidores anjo (estágio inicial) do Brasil. Criou a Bossa Nova, que já aportou recursos em 1.790 startups. Os cheques são de até R$ 1,5 milhão. Em 2022, foram 180 empresas investidas. “Toda vez que diversificamos, ajudamos mais o ecossistema. E Vamos seguir fazendo isso, porque os empreendedores precisam de mais apoio”, destacou.
O painel contou ainda com a presença do CEO e fundador da FCJ Venture Builder, Paulo Justino, o MD Partner do BTG Pactual, Claudio Berquo e do gestor da Treecorp, Filipe Lomonaco, que também avaliou que o momento é de uma busca por maior equilíbrio por parte dos investidores de riscos que realizam aportes em empresas em estágios mais avançados.
“É preciso analisar muito bem as variáveis do mercado, que são muitas hoje em dia. Claro que a meta da startup deve ser crescer, mas antes é preciso olhar bem os números e prestar atenção às bases de sustentação da operação”, disse. A Treecorp é um player de private equity, modalidade de aportes em startups em estágio mais avançado. Ele, inclusive, disse que os altos valuations das empresas acabam prejudicando no momento da saída do investimento. “No hype, as empresas estavam precificando muito alto, e depois que faziam o IPO acabavam perdendo até 80% ou 90% do seu valor”, cita.
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