quarta-feira, 8 de março de 2023


As ricas dinastias da Alemanha e Hitler

Jaime Cimenti

Na história mundial, as relações entre os milionários e os donos do poder sempre foram capítulos fundamentais e decisivos e, muitas vezes, os entendimentos (e desentendimentos) entre eles resultaram em prejuízos imensos para países, liberdades, democracias, sociedades e cidadãos.

Bilionários Nazistas (Objetiva, 400 páginas, R$ 104,90, tradução de Otacílio Nunes), do holandês David de Jong, cientista político e jornalista especializado em economia e finanças e correspondente do jornal holandês Het Financieele Dagblad em Tel Aviv, retrata a tenebrosa história das dinastias mais ricas da Alemanha. A história do nazismo na Alemanha é indissociável das biografias dos industriais e financistas que ajudaram Adolf Hitler a conquistar o poder absoluto, lucrando milhões com as atrocidades do Terceiro Reich.

A obra resultou de seis anos de investigação jornalística, leitura de milhares de documentos e fontes originais e pesquisas historiográficas, e disseca as origens obscuras das fortunas multiplicadas a ferro e fogo entre 1933-45. Os milionários eram aduladores e inescrupulosos e ampliaram seus impérios através do roubo de propriedades judaicas e da exploração do trabalho forçado de vítimas da barbárie nazista, além da fabricação de uniformes, armas e munições. A brandura no julgamento de seus crimes no pós-guerra ajudou na continuidade das dinastias empresariais.

A alentada obra de David de Jong reconstitui a vida secreta dos magnatas da morte e os mecanismos de riqueza de cinco famílias, Porsche, Oetker, Quandt, Flick e Von Finck, cujos descendentes figuram nas listas globais de milionários. Muitas empresas germânicas se expandiram sobre as ruínas da Europa ocupada.

Num momento mundial em que, especialmente depois da pandemia, há ainda maior concentração de renda e desigualdades, a obra de David de Jong lança luzes sobre as relações entre os donos do poder e os donos do planeta. 

Lançamentos

Todos nós estaremos bem (Dublinense, 192 páginas, R$ 59,90), estreia do premiado contista Sérgio Tavares, com apurada técnica narrativa e linguagem densa, narra as obsessões sexuais de Roberto por outros homens. Ele enriqueceu na ditadura e mente para Lúcia, a esposa, ex-guerrilheira do MR-8. É um brilhante recorte da história brasileira.

Sob efeito das plantas (Editora Intrínseca, 320 páginas, R$ 59,90), do jornalista, professor e escritor Michael Pollan, autor de Como mudar sua mente, investiga com propriedade o uso das drogas vegetais e os efeitos. Cafeína, ópio e mescalina são estudados pelo autor e novas luzes são lançadas sobre os compostos.

As mulheres do meu pai (Tusquets, 336 páginas, R$ 76,90), do premiado e celebrado escritor angolano José Eduardo Agualusa, fruto de uma viagem pela África, é um romance sobre mulheres, música e magia. Anuncia-se na obra o renascimento da África, continente afetado por grandes problemas. Ficção e realidade se fundem. 

Dia Internacional da Mulher

Quarta-feira que vem, 8 de março, vamos celebrar o 122º Dia Internacional das Mulheres, que foi celebrado pela primeira vez em 1911 na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. Em 1908, 15 mil mulheres marcharam em Nova York exigindo a redução de jornadas de trabalho, salários melhores e direito a voto. Um ano depois, o Partido Socialista da América declarou o primeiro Dia Nacional das Mulheres. A oficialização foi em 1975, quando a ONU passou a comemorar a data.

O oito de março foi formalizado em 1917, após uma greve em meio à guerra, quando mulheres russas exigiram "pão e paz". Quatro dias depois, o czar foi forçado a abdicar. Existe o Dia Internacional dos Homens, 19 de novembro, mas a ONU ainda não reconheceu. Sempre pensei e ainda pensou que seria ótimo um Dia Internacional da Pessoal, para democratizar de vez a coisa.

Devemos celebrar os avanços das mulheres na sociedade, na política, na economia e na busca de igualdade de gênero. Claro que falta muito para atingir as metas almejadas e, em nível mundial, ainda lutamos com salários menores para mulheres, violência doméstica e falta de espaços maiores e melhores em empresas, órgãos diversos e nos vários níveis de poder público, especialmente nos legislativos.

Certa vez, há uns 15 anos, um amigo, competente magistrado e sensível poeta, que estava transferindo a presidência de um importante órgão de classe estadual para uma brilhante colega mulher, disse, com emoção e serenidade: "Está certo, está na hora de passarmos o poder para as mulheres. As mulheres são melhores do que nós, são mais bonitas e mais inteligentes e habilidosas com os sentimentos e emoções. Elas são competentes, trabalhadoras e, ainda por cima, quando as tratamos bem, ainda nos enchem de alegria com seus carinhos." Ele foi muito e merecidamente aplaudido. Quando possível e necessário, roubartilho suas palavras para impressionar.

Sigmund Freud, depois de escutar (não só ouvir) muitas mulheres ao longo de décadas, em uma conferência em 1932, deixou um enigma até hoje não totalmente resolvido: "O que quer uma mulher, afinal?" Simone de Beauvoir deixou a famosa frase: "não se nasce mulher, torna-se mulher".

Pois é, Dr. Freud, as modernas, multifacetadas e poderosas mulheres de hoje querem paz, pão, trabalho, igualdades, arte, ciência, respeito, amor, filhos, ajuda dos familiares, colegas de trabalho e amigos e desejam ter liberdade para quererem o que acharem melhor e irem onde quiserem. Mulheres podem tudo e querem uma série de coisas.

O mundo melhorou com o empoderamento feminino. Falta muito ainda para chegarmos a patamares melhores e se sabe muito bem que liberdade, democracia, vida e alma humana são buscas infinitas. A graça maior da vida é isso: nunca saberemos tudo, nunca faremos tudo, nunca atingiremos a perfeição. Mas há que seguir adiante, e, como diz o eterno Mario Quintana: "Das Utopias. Se as coisas são inatingíveis...ora! / Não é motivo para não querê-las.../Que tristes os caminhos, se não fora... / A presença distante das estrelas!

A propósito...

Enquanto não existe o Dia Internacional da Pessoa e como o Dia Internacional do Homem é só no próximo novembro azul, vamos comemorar o Dia Internacional da Mulher, celebrando as conquistas e de olho em melhor futuro. Em tempos pós-modernos e pós-feminismo, que tal melhorarmos os relacionamentos, os diálogos, as palavras e os gestos e entender que ficar brigando dá dois trabalhos: brigar e fazer as pazes. Delicadeza gera delicadeza e, no final, o amor tem que ganhar de goleada. Feliz Dia da Mulher para todos e todes. Somos anjos de uma asa só, precisamos do outro para voar. 

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