quarta-feira, 29 de março de 2023


29 DE MARÇO DE 2023
+ ECONOMIA

Ata do Copom alivia, mas pouco

Como se esperava, a ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), foi ligeiramente mais suave do que o duro comunicado que surpreendeu até o mercado. Mas foi uma sopradinha bem de leve na mordida da última quarta-feira.

A frase que mais pode oxigenar a relação entre o BC e o governo Lula aparece no meio do terceiro ponto, ou seja, discretamente: "Em várias economias emergentes, os ciclos de aperto chegam a uma pausa ou sugerem proximidade de seu fim". Não há qualquer compromisso de fazer o mesmo, mas ao menos é a citação vaga que boa parte do mercado esperava.

No 28º ponto, veio aceno na direção do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem travado batalhas dentro do governo: "O Comitê avalia que o compromisso com a execução do pacote fiscal demonstrado pelo Ministério da Fazenda, e já identificado nas estatísticas fiscais e na reoneração dos combustíveis, atenua os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação no curto prazo.

 Ademais, o Comitê seguirá acompanhando o desenho, a tramitação e a implementação do arcabouço fiscal que será apresentado pelo governo e votado no Congresso. (...) A materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno (...) ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia e o prêmio de risco associado aos ativos domésticos".

Mas entre um soprinho e outro, sobrou espaço para uma dentada: "O Comitê novamente avaliou a possibilidade de incorporar alguma elevação em sua estimativa de taxa neutra de juros, em direção ao movimento observado nas expectativas para prazos mais longos extraídas da pesquisa Focus". É a versão detalhada da ameaça contida no comunicado de retomar o ciclo de alta do juro.

Essa ameaça veio acompanhada de um recado ao BNDES, que, por sua vez, avisou que vai atuar no crédito: "Ao avaliar os fatores que poderiam levar à materialização de cenário alternativo caracterizado por uma taxa de juros neutra mais elevada, enfatizou-se a possível adoção de políticas parafiscais expansionistas, que têm o potencial de elevar a taxa neutra e diminuir a potência da política monetária, como já observado em comunicações anteriores do Comitê".

MARTA SFREDO

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