terça-feira, 14 de março de 2023


CARLOS GERBASE

Sem prazo de validade

Os exemplos são muitos. Talvez o mais impressionante seja o do filósofo francês Edgar Morin. Aos 101 anos, segue escrevendo e participando ativamente da vida cultural do planeta. Manoel de Oliveira, cineasta português que dirigiu 33 longas, viveu até os 106. Aos 105, dirigiu um curta. Mas não precisamos olhar para tão longe. 

O escritor, roteirista e diretor gaúcho Tabajara Ruas, aos 80, segue realizando seus filmes, que resgatam momentos históricos fundamentais do Rio Grande do Sul. Será que esse pessoal não cansa? A cantora e compositora carioca Fernanda Abreu esteve em Porto Alegre, no ano passado, para apresentar o espetáculo 30 Anos de Baile. Numa entrevista a Zero Hora, aos 60 anos de idade, declarou: "Pretendo, até os 90, estar criando e me inspirando". Será que não é pouco, Fernanda?

A vida dos seres humanos tem prazo de validade, isso é óbvio, mas sua capacidade de criação precisa anteceder em quantos anos sua capacidade de respirar? É cada vez mais comum ouvir que, depois de uma certa idade, em especial para pessoas que têm uma rotina de trabalho estafante, é saudável mudar a rotina e diminuir o ritmo, encontrando mais tempo para exercícios físicos, alimentação saudável e lazer descompromissado. 

Para quem pode, sem dúvida é uma excelente opção, que contribuirá para maior longevidade e paz de espírito. Porém, isso é bem diferente de declarar que, aos 70 anos, alguém deve se abster de prosseguir em sua carreira. Experimente dizer para Mick Jagger e Keith Richards, ambos com 79, que eles são too old to rock?n?roll. É perigoso: Keith pode dar uma guitarrada na sua cabeça.

O etarismo é um problema mundial. Quem perde o emprego depois dos 50 sabe que seu currículo, com raríssimas exceções, será examinado com extremo preconceito, mesmo que o possível futuro patrão tenha mais de 60. Contudo, o etarismo tem aparecido sobretudo entre jovens em início de carreira, que às vezes veem seus colegas de profissão mais veteranos como pessoas que ocupam espaços e dificultam sua ascensão. Em vez de aprender com os "velhos", esperam que eles desocupem a moita o mais cedo possível. 

É compreensível, jovens têm muita ambição e pouca paciência, mas também é desumano e burro, pois os "velhos" geralmente gostam de ajudar iniciantes talentosos. Ao ver os veteranos como inimigos, os novatos arrivistas perdem, talvez, a melhor chance de chegar a uma idade provecta com mais sabedoria e um currículo mais qualificado. Em tempo: é claro que os veteranos também devem aprender com os jovens, e escreverei sobre isso se continuar ocupando esta moita nas próximas edições.

CARLOS GERBASE

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