Jaime Cimenti
A queridona, do Mercado Público para a Padre Chagas
Ia falar da crise crônica do Estado, da tenebrosa situação da União, da violência crescente e de outras amenidades e escândalos que andam nos atordoando. Pensei até em falar da depressão do grande jornalista Ricardo Boechat e de tantos outros cidadãos, comentar sobre os 56% de brasileiros que estão com sobrepreso ou falar daqueles que estão com IMC acima de 24, ou seja, obesos. Pensei em falar das bombas de sempre no Oriente.
Aí pensei que os queridos e assustados leitores já viram e veem estes filmes de terror e resolvi servir para eles a Bomba Royal, para dar-lhes, literalmente, um refresco. Não, não se assuste, a bomba não é nenhuma arma ou doce da Rainha Elisabeth, é a Bomba Royal da Banca 40 do Mercado Público, a banca mais famosa e celebrada de Porto Alegre, que, daqui uns dias, vai estar, lépida e faceira, em plena Padre Chagas. Notícia ótima no meio de tanta catástrofe. Quem disse que jornal é só para notícia ruim?
A Padre Chagas tem uns cento e poucos anos, a Banca 40 tem 88, vai fazer 89 dia 6 de janeiro de 2016. A Bomba tem 70. Pois é, tem coisas que duram, ainda, neste mundinho pós-moderno no qual nada dura muito. A Padre é a nossa Rua da Praia atual, guardadas as proporções. Depois do Dado Bier, da Renner, do Applebees, do clássico Café do Porto e de outras lojas e estabelecimentos elegantes, a rua coração do Moinhos segue impávida, contrariando algumas previsões negativas, que eram furadas como uma peneira.
A Banca 40 já resistiu a três incêndios, uma enchente e foi restaurada uma vez. É patrimônio afetivo-gastronômico-turístico-cultural-social de nossa cidade. Os três sabores de sorvete artesanal, com salada de frutas e nata, que compõem a Bomba Royal, a delícia mais famosa da casa, tem gosto de vó, mãe, pai, irmãos, infância, passeio na Redenção, footing na Rua da Praia e banho no Guaíba.
A Bomba Royal nasceu em 1945, quando os alemães chegaram por aqui e pediram para o seu Manuel Maria Martins, o saudoso portuga fundador da Banca 40, que servisse nata junto com as frutas e o sorvete. As frutas da salada da banca parecem colhidas diretamente do pé, lá da chácara da madrinha. O sorvete artesanal com ingredientes naturais, que no início era feito à mão pelo seu Manuel, de madrugada, continua, ainda hoje, pura verdade, tipo a figada, a pessegada e o schmier da vovó. Dá para ser feliz sem conservantes.
Além das frutas, do sorvete artesanal, da nata, do caldo de frutas, dos lanches, refeições leves e tudo mais do farto cardápio, a Banca 40 vai ter Temakeria Japesca e o Café do Mercado, para alegria de frequentadores de todas as idades, das 7h30min às 20h. Ah, os pães, frios e outros ingredientes a serem usados seguirão sendo os do Mercado Público, para que o padrão seja o mesmo. Para os que sentirem falta dos aromas do Mercado Público na nova banca, na Padre, podemos pensar em algum spray com eles. Que tal? Cartas para a redação.
A propósito...
Há uns 10 anos, um grande empresário da construção civil, um dos barões do bairro Bela Vista, andou fazendo previsões negativas, preconceituosas e que se mostraram equivocadas e furadas como uma peneira. Achava que o Moinhos de Vento "ia se tornar uma Cidade Baixa". A Cidade Baixa, aliás, se revitaliza todo dia e está ótima. A Padre Chagas e o Moinhos seguem patrimônios valorizados da cidade, do Estado, do País e dos visitantes estrangeiros. Agora, ainda mais, com a presença da vovó Banca 40, queridona dos porto-alegrenses e de quem passar por aqui, em busca da requintada simplicidade da natureza.
Jaime Cimenti
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