sábado, 5 de setembro de 2015



05 de setembro de 2015 | N° 18285
ARTIGO - JULIANA DA SILVA SERRA*

EXISTEM AYLANS POR AQUI TAMBÉM


É triste ver que a sociedade tenha chegado a um ponto no qual foi necessário que a foto do pequeno Aylan fosse compartilhada em massa para que o mundo “acordasse” para a realidade. Como a tia do menino sírio afirmou, a culpa é do mundo inteiro.

A culpa é das políticas migratórias falhas, dos Estados que relutam em receber essas pessoas, da política externa dos países e de nós, sociedade, que até então preferimos fechar os olhos para o que acontecia. Afinal: “É lá na Europa, eles que se resolvam”. Ou então: “Essas pessoas não podem ser boas, são foragidas”.

O fato é que apenas 5% dos cerca de 20 milhões de refugiados do mundo estão na Europa. Os demais se encontram espalhados pelo mundo, principalmente próximo às regiões de conflito. O refúgio é um problema global, mas não é o refugiado o problema. O problema é o tratamento. Viram-se as costas e os proíbem de entrar no território, uma vez que alguns países estão em crise, sendo impossível recebê-los.

Crise é viver sob ameaça constante, a ponto de ser preferível correr o risco de um naufrágio em um bote, morrer afogado dentro de um tanque de chocolate ou então se “aventurar” em condições desumanas dentro de um caminhão lotado, apenas com o objetivo de viver.

Cruzar a fronteira não é sinônimo de felicidade. Um exemplo é o fato de imigrantes clandestinos, potenciais refugiados, serem marcados na República Checa. Atitude semelhante à que o exército nazista praticava com judeus no Holocausto. Não obstante, sofrem também os deslocados internos, típico caso dos nordestinos, e os imigrantes, como é o caso dos haitianos e dos senegaleses. Imigrantes, esses, aliás, que não raro são enganados e extorquidos por coiotes para chegar ao Brasil.

Dói saber que faço parte de uma sociedade que chora com a foto de um menino sírio morto que estava em busca de refúgio, mas que esquece passadas algumas semanas e volta à vida normal. Não basta chorarmos pelos que estão na Europa e virarmos as costas para os que buscam aqui uma chance de recomeçar. A responsabilidade de impedir que casos como o de Aylan continuem existindo também é nossa!

*Estudante do curso de Relações Internacionais da Unisinos

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