06
de fevereiro de 2015 | N° 18065
DAVID
COIMBRA
Contra o
impeachment
Nós
não conhecíamos esta palavra, impeachment. Foi o Collor quem nos ensinou.
Trata-se de palavra pedregosa para escrever, com suas tantas sílabas e, entre
elas, três consoantes solertemente encadeadas, e ainda mais pedregosa para
falar: “impítima”.
Bem.
Collor foi “impichado”, e agora, 22 anos depois, fala-se em impeachment de
Dilma. O atento jurista Ives Gandra inclusive deu um parecer afirmando que há
precedentes legais para tanto. Não duvido. Querendo, juristas atentos encontram
precedentes legais para quase tudo.
Querendo.
Eis o problema: o querer.
Muita
gente quer Dilma fora da Presidência. Compreensível – Dilma não faz um bom
governo. Os programas sociais criados ou incrementados por Dilma e Lula são
bons, mas o PT perdeu a chance de transformar as estruturas do país.
Uma
tristeza, esse tempo que se foi. Em 2002, Lula era a esperança. Até Fernando
Henrique foi acusado de dar-lhe apoio velado. De lá para meados de 2014, foram
12 anos praticamente sem oposição. Ou seja: com as mais propícias condições
políticas que um presidente poderia esperar. Na economia, melhor ainda. A
estabilidade do Plano Real foi saudavelmente mantida e o crescimento da China
arrastou junto o do Brasil. Quadro igual, tão azul e cor-de-rosa, só se viu nos
anos 70, com o Milagre Econômico.
Estava
tudo pronto para a grande virada. Haveria pouca resistência às reformas de que
o país precisava: a reforma tributária, a reforma do Código Penal, a reforma da
Previdência, a reforma da educação básica e fundamental e até a menos
importante e mais propagandeada, a reforma política.
Mas
o PT não tinha estofo para essa tarefa. O PT tinha apenas um projeto de poder,
não de país. O mensalão e o petrolão são frutos desse projeto de poder, que não
é nada senão o velho clientelismo e o velho coronelismo, ambos tão conhecidos
do povo brasileiro, mas desta vez rearranjados organicamente, com método e com
o lustro da esquerda.
Tudo
isso é ruim, mas não é motivo para destituir um presidente da República
legitimamente eleito. Collor, quando caiu, não foi por causa do famoso Fiat
Elba, como se apregoa, mas foi por causa do que provou o Fiat Elba: ali estava
configurado o envolvimento pessoal de Collor com a corrupção de seus
assessores.
A
corrupção de setores de um governo ou a incompetência de todo o governo não
pode abalizar a derrubada de um presidente. Se abalizasse, teríamos um novo
presidente a cada semestre.
O
impeachment de Dilma só poderia ser cogitado se houvesse prova concreta de sua
participação na corrupção, o que duvido que haja. Ou de seu conhecimento da
corrupção, o que provavelmente havia, mas que dificilmente pode-se provar.
É
muito importante para o Brasil a justa punição de todos os culpados pela
corrupção deste governo, desde que a punição seja precisamente isto: justa.
Querer derrubar um presidente eleito sem todas as provas concretas para fazê-lo
é repetir o erro do PT: é ter um projeto de poder, não de país.
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