11
de novembro de 2013 | N° 17611
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
O marqueteiro
Por
mais capaz que seja um governante, ele necessita contar com pessoas
competentes, honradas e leais; afeitas a levar a franqueza ao ponto de afastar
a cortesania. A complexidade do mundo moderno, ampliação das funções estatais,
as exigências cada vez maiores da sociedade impõem ao governante abastecer-se
de todos os possíveis recursos úteis, para bem exercer suas personalíssimas
atribuições. Aliás, Mathias Aires, no século 18, escreveu nas Reflexões sobre
as Vaidades dos Homens, que só Deus governa só.
Sem
dúvida, os ministros são conselheiros legais do presidente, mas têm os
respectivos ministérios para gerir e o presidente necessita de pessoas que
tenham os requisitos de um ministro e estejam à altura de seus olhos, para
servi-lhe a todo momento; estou a imaginar que essa companhia venha a ser uma
espécie de conselho privado, da maior confiança e melhor qualidade, sem embargo
de manter o natural bom convívio com os ministros.
Ora,
não me parece que a senhora presidente desfrute desse serviço, parece mesmo que
ela ostenta os seus talentos mais variados, agora predominantemente
relacionados com a almejada reeleição; sem demérito algum, é de toda evidência
que a presidente não tem os colaboradores que poderia ter, como deixa a mostrar
inevitáveis deficiências, fáceis de evitar.
Exemplo
disso foi quanto ao preço do combustível na bomba, independente do seu custo,
ordem que durou pouco e ensejado notícias e desmentidos. Enfim, não tem o que
deveria possuir e em seu lugar instalou criatura da modernidade, capaz dos
melhores milagres – o marqueteiro.
O
marqueteiro cuida da popularidade da presidente e, isto posto, o resto deixa de
ser problema, pois o marqueteiro provê, na hora e medida desejadas. Ele fabrica
suficiências.
Não
estou a fazer suposições. O leitor está lembrando que a senhora presidente desfrutou
de generalizada simpatia que lhe assegurava 70% de aprovação popular, se não
mais. Por motivos tais ou quais, a lisonjeira situação sofreu redução, oito
pontos salvo engano, no entanto, mantendo a maioria; a segunda contagem, acusou
queda maior, assim como a terceira; enfim, a redução foi expressiva; foi quando
o próprio marqueteiro anunciou que em quatro meses tudo teria voltado à situação
primitiva. Ocorreu que os meses passaram e o quadro não voltou ao que fora.
Em
outras palavras, o marqueteiro foi elevado às culminâncias da supremacia. Ocorre
que, sem a menor preocupação de pôr em dúvida os talentos mágicos dessa
personagem, pode ser e deve ser um prestidigitador ou ilusionista de alto
coturno, possuidor de segredos que lhe permitam gerar expectativas e vender
sonhos e operações fictícias, mas que agradam aos seus adquirentes. Será pouco?
Seria exigir demais. O marqueteiro é insubstituível. Pode até alterar a
natureza das coisas...
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
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