22
de novembro de 2013 | N° 17622
PAULO
SANT’ANA
Não acredito no que
vi
Desculpem,
mas quero dizer que estou ficando velho.
É
que eu assisti, com estes olhos que vão perdendo a visão nítida aos poucos, ao
Garrincha jogar, pelo Botafogo, contra o Internacional, no Estádio dos
Eucaliptos. Sim, meninos, eu vi!
Eu
vi jogarem pelo Grêmio Geada e Prego. Eu vi jogar pelo Grêmio o Marimba,
meia-direita, lembro-me que ele tinha os cabelos cor de fogo.
E,
além de Marimba, vi jogar, na velha Baixada Tricolor, o Nélson Adams, o Beroci
e o goleiro Júlio pelo Grêmio, este último também foi goleiro do Internacional.
É
evidente que não vi jogar Foguinho pelo Grêmio, mas o vi centenas de vezes ser
treinador do Grêmio. E, para minha decepção, vi jogos de Foguinho como
treinador, sabem de que clube? Do Internacional. Sim, senhores, o grande
Foguinho, lenda do Grêmio, acabou como treinador do Internacional.
Eu
pessoalmente vi jogar pelo Santos e pela Seleção Brasileira o Pelé, mais de uma
centena de vezes. Calma lá, muito de Pelé que vi foi pelo cinema, no Canal 100.
Mas o vi pessoalmente também, nos estádios.
E me
recordo de uma cena inesquecível nos anos 60. Foi no Olímpico: Pelé e Coutinho
apanharam a bola no círculo central e foram tabelando, só de cabeça, até a
grande área do Grêmio! Eu me orgulho de ter visto essa cena.
E
vi, olhem o que vi, quando eu era ajudante de caminhoneiro, no Pacaembu,
jogarem Santos x Botafogo. E estavam em campo nada menos, nada mais, nesse
jogo, do que Pelé e Garrincha. Nem me lembro de quem ganhou o jogo, mas guardo
nítidas as lembranças daquela partida monumental.
Pelé
contra Garrincha no mesmo jogo, só eu vi isso em todos os tempos, ninguém mais
pode ter visto!
Eu
vi jogar, é verdade que só uma vez, também no Estádio dos Eucaliptos,
Tesourinha, o lendário Tesourinha, na ponta-direita do Internacional. Eu tinha
seis anos de idade, foi em 1945.
O
que eu já vi através dos tempos é coisa que não se desprega jamais da retina.
Eu
tinha 11 anos, mas não vi a Copa do Mundo de 1950 no Brasil. Afinal, não tinha
televisão, escutei de refilão pelo rádio.
Mas
não sei de que jeito eu vi, pela televisão ou pelo cinema, o lendário húngaro
Puskas jogar contra o Brasil na Copa de 1954.
Olhem,
o que eu já vi daria para compor um caleidoscópio fulgurante de qualquer
colecionador.
Eu
já vi coisas em futebol que nem Nelson Rodrigues conseguiria definir em seu
gênio.
Eu
já vi tanta coisa em futebol, que às vezes me belisco para conferir se estou
sonhando ou eu realmente vi.
Vi,
revi e revivi agora nesta coluna.
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