20
de novembro de 2013 | N° 17620
ARTIGOS
- Vinicius Wu*
A China e nós
Nos últimos
dias, as atenções do mundo estiveram novamente voltadas para a China, que acaba
de definir suas novas diretrizes econômicas. O regime anunciou importantes
medidas, mas nada próximo à profunda mudança de rumos que chegou a ser
especulada no Ocidente. Prevaleceu a moderação sustentada pela tecnocracia
confucionista do Partido Comunista Chinês. Obviamente, o Brasil e o Rio Grande
do Sul devem estar atentos aos rumos da segunda economia do planeta.
As “terceiras
sessões plenárias”, como são chamados os encontros semelhantes ao ocorrido
entre 9 e 12 de novembro, ocupam um lugar de destaque na recente história
chinesa. Foi numa dessas reuniões, em 1978, que Deng Xiaoping anunciou seu
programa de reformas cujos efeitos moldaram a face da nova China.
Para
o encontro deste mês, chegou-se a cogitar, entre os analistas ocidentais, uma
inflexão tão impactante quanto a realizada pela reunião de 1978, mas o informe
da agência estatal Xinhua, divulgado ao final da sessão, indica um resultado em
nada parecido com aquele.
Os
debates do encontro, em grande medida, foram influenciados pelo resultado do
PIB chinês em 2012, que cresceu 7,8%, consolidando uma desaceleração que deve
ser reafirmada em 2013. Diante da crise internacional (os efeitos sobre suas
exportações foram imediatos), a China busca adotar medidas que ampliem sua
capacidade de atração de investimento estrangeiro. Porém, uma liberalização
econômica mais profunda parece ter sido descartada. E no campo político também
não estamos diante da “glasnost” chinesa, como alguns chegaram a supor.
O
comunicado da agência Xinhua é claro ao reafirmar o “papel dirigente da
economia estatal”, ao mesmo tempo em que projeta um lugar de destaque para o
mercado na economia chinesa dos próximos anos. As mudanças serão moderadas e
processuais, mas estão longe de serem irrelevantes.
Não
seria recomendável a nenhum país emergente, muito menos ao Brasil, uma postura
contemplativa frente aos acontecimentos e decisões da potência asiática. Afinal,
o comércio Brasil-China movimenta, aproximadamente, US$ 90 bilhões atualmente.
Além
disso, apesar da desaceleração da economia chinesa, cumpre lembrar que um
crescimento de 7,5% (previsão para 2013) sobre uma base de US$ 8,7 trilhões (PIB
chinês) representa o mesmo que uma taxa de crescimento de 20% dez anos atrás. Mesmo
com a redução das taxas de crescimento chinesas, ampliaremos, em 2013, as
exportações de minério de ferro e soja ao país. Ou seja, a China representará,
por algum tempo, uma oportunidade singular de negócios para o Brasil.
A
missão do governo gaúcho, prevista para o final de novembro, ocorre, portanto,
em um momento mais do que oportuno. Será a primeira missão brasileira após o anúncio
das novas diretrizes econômicas do regime chinês. Hora de aproveitar os
movimentos do gigante asiático.
É bastante
conhecida a recomendação de Napoleão a seus comandados para que deixassem a
China dormindo (“Quando a China acordar, abalará o mundo”, chegou a afirmar). Por
hora, não há nada a indicar que a profecia de Napoleão, feita ainda no século 18,
não seguirá se realizando. Uma agenda internacional que desconsiderasse esse
fato não estaria à altura de um Estado que começa a projetar, com ousadia, seu
futuro.
*Secretário-geral
de Governo do Governo do Estado do Rio Grande do Sul e coordenador do Gabinete
Digital
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