sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Jaime Cimenti

A história de um livro não escrito

O escritor e psicanalista argentino Luis Gusmán, nascido em Buenos Aires em 1944, desde seu primeiro livro, El frasquito - publicado no Brasil pela Iluminuras em 1990 com o título O vidrinho -, consolidou-se como um dos grandes nomes de sua geração e há muito é conhecido dos leitores brasileiros. Recebeu vários prêmios, como o Boris Vian, e publicou, no Brasil, Villa (2001); Pele e Osso (2009); e, como organizador, Sonhos (2003), de Franz Kafka, e Os Outros - Narrativa argentina contemporânea (2010), todos pela Iluminuras.

O romance Hotel Éden, que acaba de ser publicado por aqui, é de 1999 e estava inédito em português. O prefácio e a tradução são de Wilson Alves-Bezerra, que escreveu: “Hotel Éden é a narrativa nunca contada por Ochoa, o livro que ele inclusive prometeu a si mesmo não escrever caso Mônica não enlouquecesse completamente. Mas as histórias, sabemos, precisam ser contadas e, não por acaso, aquela que por fim desvenda o mistério em questão não é outra senão Mônica.”

Aos 50 anos, Ochoa se depara com o desafio de escrever Hotel Éden, o livro sempre adiado e jamais realizado, e tem a oportunidade de poder lidar com as memórias de sua relação com Mônica, a cabeleireira de olhos verdes e lábios carnudos, sua amada, que ficou louca e o enlouqueceu. Sobre o mítico Hotel Éden de Córdoba pairam lendas políticas do período peronista, como a de ter sido refúgio de nazistas, mas também paira a história pessoal de Ochoa, sua foto com os pais, lembranças de uma época de vacas gordas. Principalmente pairam as lembranças de sua lua de mel com Mônica e sua fixação pela imagem da jovem alemã da propaganda do hotel.

Ochoa busca, com rememorações, algum sentido não apenas para as vicissitudes de seu amor, mas também do ambiente no qual este se desenvolveu: a Argentina de Perón, com as perseguições dos militares, o medo, a música e o cheiro daquela época. Entre a investigação e a memória a narrativa flui, revelando ruínas do vivido e do não vivido e a história secreta do hotel. Na impossibilidade da convivência, Ochoa e Mônica vão se destruindo e enlouquecendo, vítimas de suas idealizações e pulsões.


A literatura aparece para Ochoa como possibilidade de redenção. Ele precisa contar o que aconteceu, pois as histórias precisam ser contadas, especialmente quando isto é o que resta. Editora Iluminuras, 144 páginas, R$ 38,00, www.iluminuras.com.br.

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