Jaime
Cimenti
A história de um livro não
escrito
O
escritor e psicanalista argentino Luis Gusmán, nascido em Buenos Aires em 1944,
desde seu primeiro livro, El frasquito - publicado no Brasil pela Iluminuras em
1990 com o título O vidrinho -, consolidou-se como um dos grandes nomes de sua
geração e há muito é conhecido dos leitores brasileiros. Recebeu vários
prêmios, como o Boris Vian, e publicou, no Brasil, Villa (2001); Pele e Osso
(2009); e, como organizador, Sonhos (2003), de Franz Kafka, e Os Outros -
Narrativa argentina contemporânea (2010), todos pela Iluminuras.
O
romance Hotel Éden, que acaba de ser publicado por aqui, é de 1999 e estava
inédito em português. O prefácio e a tradução são de Wilson Alves-Bezerra, que
escreveu: “Hotel Éden é a narrativa nunca contada por Ochoa, o livro que ele
inclusive prometeu a si mesmo não escrever caso Mônica não enlouquecesse
completamente. Mas as histórias, sabemos, precisam ser contadas e, não por
acaso, aquela que por fim desvenda o mistério em questão não é outra senão
Mônica.”
Aos
50 anos, Ochoa se depara com o desafio de escrever Hotel Éden, o livro sempre
adiado e jamais realizado, e tem a oportunidade de poder lidar com as memórias
de sua relação com Mônica, a cabeleireira de olhos verdes e lábios carnudos,
sua amada, que ficou louca e o enlouqueceu. Sobre o mítico Hotel Éden de
Córdoba pairam lendas políticas do período peronista, como a de ter sido
refúgio de nazistas, mas também paira a história pessoal de Ochoa, sua foto com
os pais, lembranças de uma época de vacas gordas. Principalmente pairam as
lembranças de sua lua de mel com Mônica e sua fixação pela imagem da jovem
alemã da propaganda do hotel.
Ochoa
busca, com rememorações, algum sentido não apenas para as vicissitudes de seu
amor, mas também do ambiente no qual este se desenvolveu: a Argentina de Perón,
com as perseguições dos militares, o medo, a música e o cheiro daquela época.
Entre a investigação e a memória a narrativa flui, revelando ruínas do vivido e
do não vivido e a história secreta do hotel. Na impossibilidade da convivência,
Ochoa e Mônica vão se destruindo e enlouquecendo, vítimas de suas idealizações
e pulsões.
A
literatura aparece para Ochoa como possibilidade de redenção. Ele precisa
contar o que aconteceu, pois as histórias precisam ser contadas, especialmente
quando isto é o que resta. Editora Iluminuras, 144 páginas, R$ 38,00, www.iluminuras.com.br.
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