19
de novembro de 2013 | N° 17619
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
A Feira e o patrono
Quantas
vezes fui chamado a falar da Feira, no último mês? Em quantas fotos apareci, ao
lado de leitores entusiasmados e visitantes felizes? Quantos passos dei pelas
alamedas da Praça da Alfândega? Perdi todas essas contas. Aliás, não fiz
nenhuma dessa contas. Desde que recebi a honrosa designação para ser o patrono
da edição 59 da Feira do Livro de Porto Alegre, vivi uma experiência vertical,
afetuosa, envolvente. E me dei conta de umas quantas coisas.
Nossa
Feira é um evento sem inimigos. Todos gostam dela, fazem questão de que ela
exista, ainda que não sejam exatamente leitores regulares. A existência dela, a
cada ano, de certa forma organiza nossa vida na cidade – e não é exagero pensar
que ela tem sido pivô da revitalização do Centro, naquele entorno. Nossa Feira
ocorre na primavera, como um festival de colheita:
não
nos abaixamos para tirar da terra um fruto amadurecido que sobreviveu ao
inverno, mas fazemos algo parecido – expomos, manuseamos, compramos livros, um
dos frutos sublimes que a humanidade inventou em sua sofrida caminhada. Nossa
Feira é aberta, sem restrições a gente ou a gêneros de livros: sua melhor vocação
é a universalidade, que combina com a cidade democrática.
Nossa
Feira, aliás, representa vivamente a cidade. Do que gostamos numa cidade? Da
convivência, assim como da liberdade individual. De flanar pelas ruas e
parques, assim como de sentar para ler, tomar um café, pensar na vida. Da
sombra das árvores, tanto quanto do sol amigo. Tudo isso a Feira nos
proporciona, diretamente, na carne e na alma. (E imaginar que tive a honra de
representar tudo isso...)
Me
dei conta, nesses intensos dias, que o patrono herda o gosto, a simpatia e
mesmo o amor que as gentes dedicam à Feira. Não se trata da consagração deste
indivíduo que aqui escreve: é a virtude de uma cidade que vê no livro um
elemento vital, e que uma vez por ano refaz o trajeto, a seu modo mítico, de
celebrar sua existência, na praça, para todos. Muito obrigado.
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