18
de novembro de 2013 | N° 17618
L.F.
VERISSIMO
Prisões
Quando
os figurões do governo Nixon envolvidos no escândalo de Watergate começaram a
ir para a cadeia, um cômico americano imaginou-os liderando um motim entre os
presos, batendo nas mesas do refeitório com seus talheres e pedindo
“Montrachet! Montrachet!” ou outro vinho da mesma estirpe para acompanhar a
comida.
Se a
prisão dos acusados do mensalão estiver mesmo inaugurando uma nova prática
jurídica no país, o encarceramento de condenados, sem distinção de nível social
ou importância politica, uma das consequências disso pode ser uma melhora dos
serviços penitenciários para receber a nova clientela.
Prevejo
duas coisas: uma, que quando exumarem esse processo do mensalão daqui a alguns
anos, como agora fazem com os restos mortais do Jango Goulart, descobrirão
traços de veneno, injustiças e descalabros que hoje não dão na vista ou são
ignorados. O que só desagravará alguns dos condenados quando não adiantar mais
nada. Outra profecia é que, mesmo sem “Montrachet”, a comida das penitenciárias
certamente melhorará.
Prisões
mais humanas e democráticas serão um avanço, mas nossa meta deve ser o que
acontece na Suécia, como li há dias. Lá vão fechar algumas penitenciárias por
falta de detentos. Diminuiu a população carcerária na Suécia, abrindo imensos
espaços ociosos até para – por que não? – importarem presos de países onde há
superpopulação carcerária. Não se imagina uma campanha de incentivo à
criminalidade na Suécia para reabastecer suas penitenciárias igual a campanhas
de incentivo à fertilidade que havia na França, onde as pessoas eram premiadas
por ter filhos.
Na
Itália, havia, e acho que ainda há, uma crise educacional grave, não por falta
de lugar nas escolas, mas por excesso de lugar: simplesmente não existiam
crianças suficientes para encher as salas de aula e fazer o sistema funcionar
normalmente. A solução era animar a população: façam filhos, façam filhos! Ou,
no caso da Suécia: roubem! Matem! Enganem o fisco! Temos uma cela quentinha
para você!
Especula-se
que os programas de reabilitação de presos nas cadeias seja responsável pela
diminuição da criminalidade na Suécia e que... Mas do que adianta sonhar com
outra realidade quando a nossa, nesse assunto, ainda é medieval? Mesmo que
melhore a frequência nas nossas cadeias ainda estaremos longe do ideal. Ou, no
mínimo, do escandinavo.
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