segunda-feira, 18 de novembro de 2013


18 de novembro de 2013 | N° 17618
DESPERDÍCIO NA SAÚDE

Unidades prontas, portas fechadas

Com R$ 13,3 milhões de investimentos, UPAs de quatro cidades não funcionam por problemas como falta de equipamentos

O Estado tem pelo menos quatro Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) prontas, mas com as portas fechadas. Juntas, as obras em Alegrete, Bagé, Lajeado e Santo Ângelo custaram cerca de R$ 13,3 milhões aos cofres públicos. Sem uso, deixam de atender entre 400 e 900 pessoas por dia.

Ademora para que as construções recebam pacientes tem diferentes justificativas. Rachaduras, falta de equipamentos e problemas na rede elétrica estão entre elas. Estruturas de complexidade intermediária, elas possibilitariam desafogar os atendimentos nos pronto-socorros dos hospitais.

As obras de Bagé, Lajeado e Santo Ângelo foram concluídas há quase um ano, em dezembro de 2012. Na cidade das Missões, a unidade que poderia receber até 300 pacientes por dia foi entregue à população durante uma solenidade em 21 de dezembro do ano passado. Até hoje, não realizou nenhum atendimento.

O local recebeu mais de R$ 3 milhões em investimentos – R$ 2,1 milhões destinados pela União, R$ 837 mil pagos pelo Estado e o restante, pelo município. Mas problemas na estrutura impedem o uso do lugar. Uma vistoria da Secretaria Estadual de Obras Públicas, Irrigação e Desenvolvimento Urbano (SOP) apontou falhas na construção e de acabamento, como rachaduras no piso e fissuras. Falta, também, a instalação de um gerador de energia elétrica.

– Aguardamos o governo estadual fazer os ajustes na estrutura do prédio – diz o prefeito, Valdir Andres.

Conforme a Secretaria Estadual da Saúde (SES), a pasta de Obras foi acionada para a resolver as pendências. O prazo não foi divulgado.

Situação semelhante é encontrada em Lajeado, no Vale do Taquari. Concluída no final de 2012 a R$ 4,6 milhões, somando o valor da obra e a compra de equipamentos, a UPA com capacidade para receber até 300 pessoas por dia ainda não teve atendimentos. Segundo a prefeitura, a administração anterior não abriu licitação para a compra de equipamentos, o que foi realizado pela atual gestão. A previsão é de que a unidade passe a funcionar em dezembro.

Falta de gerador atrasa atendimentos em Alegrete

Na Fronteira, é a falta de uma estação para geração de energia que atrasa o início das atividades da UPA de Alegrete, oficialmente entregue em abril. Além disso, segundo a secretária municipal de Saúde, Maria do Horto, a administração ainda estuda uma forma para a contratação de profissionais. Em Bagé, o problema é a licitação para a compra de um aparelho de raio X, e a previsão é de que as atividades comecem neste mês – quase um ano depois do fim da obra, em dezembro do ano passado.

O excesso de burocracia é apontado por Alfredo Menegheti Neto, especialista em finanças públicas estaduais da Fundação de Economia e Estatística (FEE), como um dos principais responsáveis pelo desperdício de recursos. Para o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alcindo Antônio Ferla, especialista na área da saúde coletiva e educação, a situação em que se encontram as UPAs traz prejuízos ao cidadão, pois, com o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), as unidades têm ajudado a diminuir as mortes por acidentes e outras emergências.

– Elas estão em expansão, e é evidente que existe prejuízo, não apenas financeiro. Elas foram inventadas não só porque há dinheiro para gastar, mas porque efetivamente a população precisa – salienta.


fernando.goettems@zerohora.com.br

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