01
de dezembro de 2013 | N° 17631
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Amigos se
casando
O
que faz duas pessoas quererem passar o tempo todo juntas? Que loucura é essa? O
que move um casal a dividir suas fantasias, seus medos, suas manias? O que tem
na cabeça dessa gente que decide casar e se expor ao imprevisível do fim do
dia? Dormir lado a lado, acordar lado a lado, grudar nos finais de semana,
sentir saudade e se desesperar de preocupação. O que faz alguém ceder metade do
seu guarda-roupa, metade de seu quarto, metade de seus sonhos, metade de suas
confidências?
O
que faz um casal se acotovelar para escovar os dentes no espelho? O que
pretende: dormir em paz? Como? É uma ginástica rítmica encontrar o encaixe, a
conchinha, o tempo da respiração do outro na cama. E se um levanta, como não se
assustar e seguir descansando? É brigar pela televisão, pelo horário de
abandonar uma festa, pelo uso das folgas. É ouvir que bebeu demais, é ouvir que
falta paciência e não poder mais deslizar pela grosseria impunemente. É criar
vexame e ser repreendido.
Não
seria mais fácil cada um seguir sua vida e seguir namorando em residências
separadas, com ideais separados? Não seria mais fácil não sofrer com
contratempos e dores, ser egoísta e breve, não se importar com que o outro está
pensando?
O
que movimenta o coração dessa gente que se entrega? Essas pessoas insistentes
numa história de amor, românticas, ingênuas, que não acreditam em divórcios, apesar
da metade dos amigos ser divorciada. São loucos ou desinformados? Ou os dois?
Ninguém
tem vontade de avisá-los? Ninguém ficou com vontade de convencê-los a se manter
longe do altar? Que p**** de amigos são estes? Que p**** de padrinhos são
estes?
Que
doideira é esta? Comprar o sorvete predileto e de repente ver que não está mais
no congelador. Não experimentaram irmãos para ver que nada permanece no lugar
durante a vida familiar?
Não
pode ser normal desejar essa dependência quando os dois poderiam ser livres,
sem necessidade de prestar contas para onde vai e com quem está.
Olha
o esforço que estão se metendo: não há mais como sair de casa e deixar o
celular desligado. Olha o quanto sofrerão de ciúmes à toa, de insegurança à
toa.
É um
caminho sem volta: é dizer “eu te amo” e esperar a resposta “eu te amo”, é
dizer “eu te amo muito” e esperar a resposta “eu te amo muito”, é perguntar se
o amor é correspondido com receio do despejo.
Para
que se incomodar, hein?
Eu
sei o motivo. Todo amor é um milagre. O que é o sofrimento perto da sorte de
ser amado?
Todo
amor é uma comoção. Os pássaros invejam os casais que podem andar de mãos
dadas. Os pássaros dariam suas asas para andar de mãos dadas por cinco quadras.
Todo amor é uma revolução. As árvores dariam seus frutos para dançar colados
pelo menos por uma noite.
Não
existe sacrifício, existe doação. Não existe renúncia, existe entrega. Não
existe culpa, existe escolha. Ninguém entenderá o que vocês estão vivendo, além
de vocês mesmos.
O
amor é um segredo a dois. Transforma tudo o que é errado em personalidade.
Transforma tudo o que é certo em lembrança.
O
amor é coragem. Só pode ser feliz quem não esconde seu rosto. O amor é
incurável. Não tem como trocá-lo por nada. É uma amizade cheia de desejo.
Vocês
não precisam de explicação porque se compreendem pelo olhar. Não precisam de
paz, a confiança é o início da fé. Não precisam temer problemas, basta se
abraçar dentro de um beijo. Vocês nasceram sozinhos, mas jamais ficarão de novo
sozinhos. Estarão se acompanhando a vida inteira, até depois do fim.
Se
um esquecer, o outro vai lembrar. Se um vacilar, o outro vai amparar. São
inteiros sendo dois. Mais inteiros hoje do que quando nasceram.
A
eternidade tem inveja de vocês.
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