27
de novembro de 2013 | N° 17627
PAULO
SANT’ANA
Deixar de fumar
Há pessoas
que consideram fácil deixar de fumar, principalmente as que não fumam.
Tomemos
o Cláudio Brito como exemplo, fumou durante uns 25 anos, eu filava dele os seus
cigarrinhos finos e compridos, nem me lembro da marca.
De
repente, não mais que de repente, o Cláudio Brito deixou de fumar. O maior
prejudicado com essa decisão fui eu, que não podia, então, dali por diante,
filar os cigarrinhos finos do Brito.
Podem
pensar os incautos que foi fácil para o Brito deixar de fumar. Que nada! Foi
fruto de profunda reflexão e de uma força de vontade gigantesca o largar o
cigarro para o Brito.
Não
há nada mais difícil de fazer do que livrar-se de um hábito ou de um vício de
uma hora para outra.
Então,
eu valorizo muito o sacrifício do Brito em deixar de fumar. Só eu sei quantas
vezes decidi deixar de fumar e ali adiante voltei atrás covardemente da minha
decisão.
E
assim vou eu. Já peguei um câncer na rinofaringe e continuei fumando, a
perspectiva é de que eu pegue um outro câncer. Essa lâmina está assestada acima
da minha cabeça.
Mas
eu continuo atrevida e solertemente a fumar.
É verdade
que, antes de eu contrair um câncer, a esperança que eu tinha é de que, mesmo
fumando compulsivamente, tivesse a sorte de não pegar a doença.
Peguei,
tudo indica que a curei e agora insisto em fumar, certamente na esperança de
que não me sobrevenha um segundo câncer.
E
assim segue a ladainha.
Precisam
os leitores saber da minha ansiedade quando tenho qualquer pontadinha na
garganta. Pergunto-me aflito: “Será que não é a danada da doença que voltou a
atacar-me?”.
Só quando
desaparece a dorzinha de garganta é que fico tranquilo. Mais ou menos
tranquilo, porque desconfio que possa vir a ter um segundo câncer sem aviso de
dor desta vez.
Conheço
inúmeras pessoas que tiveram câncer por causa do tabagismo, salvaram-se com a
cura e imediatamente deixaram de fumar.
Por
que será que insisto em fumar? Não será uma compulsão para a morte?
É dar
muita chance para o azar. É ser muito fraco para não renunciar ao prazer.
Por
sinal, esse tal de prazer que sinto e sentem tantos ao fumar, já pensaram e já pensei
eu no prazer que é não fumar?
Nunca
pensei.
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