21
de novembro de 2013 | N° 17621
EDITORIAIS
OS SENHORES DO CRIME
O
alerta do superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Roberto Ciciliati
Troncon Filho, de que há pouca diferença entre os danos provocados na prática
por criminosos ligados ao tráfico e pelos senhores que desviam recursos públicos
se presta a reflexões num país às voltas com a corrupção. O que diferencia um e
outro tipo de transgressor é o uso da força, mais associado a quem pratica a
violência urbana e se financia do comércio de drogas.
Mas, como adverte o dirigente, são igualmente
perniciosos os atos de servidores ou políticos que fraudam licitações ou
desviam recursos públicos escassos em áreas essenciais, com prejuízos maiores
justamente para quem mais precisa de serviços prestados pelo poder público. Obviamente,
ninguém deseja a volta de um Estado policialesco. Mas, diante de tantos
desmandos e de tanta impunidade, resta à sociedade cobrar para que cada
instituição faça a sua parte em todas as etapas da fiscalização ao julgamento e
à punição.
No
Exterior, o país tem hoje cerca de US$ 300 milhões bloqueados em contas de
brasileiros, a maior parte na Suíça, conforme dados do Departamento de Recuperação
de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, do Ministério da Justiça. Só em
nome do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, condenado por desvio de recursos na
construção do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo, por exemplo, havia
US$ 4,8 milhões congelados na Suíça.
Há pouco,
o país ficou sabendo que uma solicitação da mesma Suíça para ouvir envolvidos
em São Paulo no caso de pagamento de propina, superfaturamento e cartel nas
licitações do metrô e trens havia sido simplesmente desconsiderada. Fatos como
esse ajudam a reforçar declarações como a do ministro-chefe da Controladoria-Geral
da União (CGU), Jorge Hage, de que processos contra criminosos endinheirados no
Brasil só terminam “em menos de 20 anos se o acusado quiser”.
O
mesmo país que conseguiu agora mandar acusados do mensalão para a cadeia, de
fato, só duas décadas depois se mostrou capaz de condenar por improbidade seu
mais notório político envolvido em denúncias, Paulo Maluf – que ainda pode
recorrer. E, só agora, igualmente, diante da iminência de prescrição dos
crimes, foi retomado um processo contra o ex-presidente Fernando Collor, que se
encontrava desde 2007 no STF.
O
desfecho do mensalão, com a inédita condenação de culpados do alto escalão da
política, tem que ser encarado como estímulo na luta contra a corrupção. Só haverá
menos impunidade quando o país deixar de tolerar qualquer transgressão à ética
e se mostrar preparado para punir todo tipo de crime – incluindo os de
colarinho branco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário