01
de dezembro de 2013 | N° 17631
VERISSIMO
Uuuuuuuuu...
—
Vovó, você se lembra da sua primeira vez?
—
Primeira vez o quê, minha filha?
—
Que fez sexo.
—
Uuuuuuuu...
—
Faz tanto tempo assim?
—
Espera que eu ainda não terminei. Uuuuuuuuuu...
—
Foi com quem?
— Um
cadete. Ele ia ser mandado para o front no dia seguinte e disse que queria
levar com ele a lembrança da nossa última noite juntos. Não pude recusar. Dali
a duas semanas, recebi a notícia de que ele tinha morrido.
—
Que front era esse, vovó?
— O
front. Da guerra. Não me lembro qual delas. Fiquei chocada com a notícia e me
internei num convento, onde fiquei pelo resto da vida.
—
Vovó, você viveu num convento?
—
Não vivi? Espera um pouquinho. Acho que estou misturando as coisas. Isso foi um
romance que eu li. Ó, cabeça.
—
Então, quem foi o primeiro?
— O
primeiro o quê?
—
Com quem você fez sexo, vovó.
—
Uuuuuuuuu... Deixa ver. Como era o nome dele... Gilbert qualquer coisa. Gilbert
Roland!
—
Acho que esse era um ator.
—
Não, não, não. Era nosso vizinho. Nos encontrávamos no fundo do quintal, sob a
goiabeira. Até hoje não posso sentir cheiro de goiaba que me lembro do Gilbert
Roland. Foi o primeiro e o único. Nunca mais amei ninguém.
—
Vovó. Você casou com o vovô. Teve cinco filhos com o vovô. Você amava o vovô.
—
Tudo fingimento.
— E
há quanto tempo você não faz sexo?
—
Uuuuuuuuuuu...
—
Com quem foi a última vez?
— Eu
já era viúva. Um dia bateram na porta. Era o Juan Carlos da Espanha. Na época
ele ainda era príncipe. Tinha errado de porta, estava procurando não sei quem.
Mandei entrar e começamos a conversar. Assuntos gerais. Ele pediu para ver o
meu quarto... E aconteceu. Nunca mais nos vimos. Mas ele não deixa de me
escrever.
—
Vovó, você tem cartas do rei Juan Carlos da Espanha?
—
Estão por aí, em algum lugar.
— E
são cartas amorosas?
—
Uuuuuuuuuuuu...
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